esta tem sido uma semana ocupada. últimas preparações para o Pagan Pride Day (Dia do Orgulho Pagão) e para a exposição que estou organizando, chamada Web of Life. ainda tenho que pintar uma faixa gigante prá pendurar do lado de fora do espaço onde vai rolar a expo. também tenho que me preparar para o meu primeiro workshop em terras gringas,
Creating Mandalas for Healing  (Criando Mandalas para Cura). estou meio ansiosa para esse, porque vai ser meu primeiro workshop em inglês. espero que tudo corra bem, pois estou super feliz com a possibilidade de ensinar algo depois de 5 anos afastada de salas de aula!

então, durante o resto da semana não vou ter o menor tempo prá pegar em lápis e pincéis. tava pensando em terminar minha segunda tentativa com a Árvore da Vida para mostrar no festival, mas não terei tempo, infelizmente.

o Pagan Pride Day, ou Dia do Orgulho Pagão, é celebrado em vários lugares do mundo mais ou menos na mesma época, sempre no Equinócio do Outono (Primavera, para o hemisfério Sul). é um festival que celebra não apenas o paganismo em suas muitas vertentes, mas também a liberdade e tolerância religiosa. aqui nós temos, além da arte, stands de produtos - em sua maioria feitos à mão, oráculos, curadores, oficina, sorteios, grupos musicais e atrações para as crianças. a admissão é uma lata de sopa ou fruta, que doamos para um banco de alimentos local. é um festival lindo, do qual me sinto super orgulhosa em contribuir.

...estive ilhada em casa dos meus sogros, numa cidade chamada Hopkinsville, bastante conhecida por ser a terra do grande medium Edgar Cayce. a cidade em si não tem nada de extraordinário, e a despeito disso está sendo bastante debatida ultimamente a possibilidade de nos mudarmos para lá, já que meus sogros estão ficando meio avançados em idade e um pouco isolados demais. a possibilidade só me agrada pela proximidade com o Tenessee e Paducah, que é uma das chamadas "cidades de artistas" do país. mas quando existe bem estar familiar em jogo, o que eu acho ou deixo de achar se torna completamente irrelevante. mas enfim, estar lá pelo menos para visitar sempre é agradável e ajuda a recarregar as baterias graças a atmosfera super aconchegante em que minha sogra cerca a gente. aproveitei o tempo sem internet prá ler Campbell, geometria sagrada e fazer mandala, e tive uma experiência prá lá de bacana. conto depois, porque tô com um bocado de coisa prá colocar em dia por aqui e uma preguiiiiiiiça danada.

 
em andamento: Padma, sketch e trabalho final.


Lírio D´água (Waterlily) foi uma agrável surpresa prá mim, uma vez que cheguei a acreditar que não era mais capaz de trabalhar com cores suaves. tenho perseguido um estilo mais etéreo, limpo e leve por algum tempo e eis que, de repente, ele finalmente surgiu com esse trabalho. novamente, consegui exatamente o que queria por trabalhar sem senso de compromisso ou preocupação com qualidade ou propósito simbólico. desconfio que estou chegando perto de alguma coisa muito excitante... :)

outra coisa que tem sido difícil de controlar é a complexidade de certos temas que eu planejo trabalhar. a pintura termina sempre muito detalhada e por causa disso eu acabo fugindo de minhas aspirações estilísticas. então acho que tenho que aprender a me expressar usando elementos simples mas poderosos. e exatamente por causa dessa complexidade que acaba me frustrando tive que colocar Nossa Senhora dos Anjos Idos de Lado. acho que precisa de mais estudo, e as cores por alguma razão não parecem as certas. aliás, essa é uma grande falha minha, não estudar minhas pinturas suficientemente. basta uma idéia, uma pesquisinha de nada, e vamos jogar tudo na prancha e entregar a Deus. o jeito é ter calma por enquanto e continuar experimentando...

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a Lolla dedicou-me um feature fofo no seu lindíssimo blog, do qual sou fã a um bocado de tempo. considerando que ela é sabidamente uma das meninas de maior sensibilidade prá coisas bonitas da web, ser citada no seu blog é uma honra enorme. thanks, Lolla!

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e prá terminar, meme copiado da Dee.

1. Mania: roer unhas.

2. Pecado capital: uma certa avareza light. sou pão-dura.

3. Melhor cheiro do mundo: concordo com a Dee: café! não só porque eu amo café, mas por ativar minha memória afetiva imediatamente.

4. Se dinheiro não fosse problema, eu faria: um grande centro de artes, cultura e terapias alternativas, com mensalidades e consultas super baratinhas para atingir as pessoas de baixa renda.

5. Casos de infância: uma vez tentei roubar um pacote de chicletes do supermercado, arrastando-o com meu pé até a saída. desisti antes de completar a façanha e fiquei com uma vergonha enorme de mim mesma depois.

6. Habilidade como dona de casa: hmmmm.... fazer café conta?

7. O que eu não gosto de fazer em casa: T-U-D-O. tolero limpeza porque de certa forma é terapêutico prá mim, é como se limpando coisas eu também me limpasse por dentro, sei lá. mas a pior coisa mesmo é lidar com roupas. graças a Deus pelas máquinas de lavar e secar, porque se eu tivesse que fazer isso prá marmanjo juro por Deus que não teria casado. mas enfim, meu marido é quem lida com essa parte aqui em casa. e não passo roupa a ferro nem por um decreto, só as minhas, e na hora de vestir.

8. Frase: amo a do Jung, "Quem olha prá fora,sonha; quem olha prá dentro, desperta."

9. Passeio para o corpo: sair à noite prá dançar.

10. Passeio para a alma: Petrópolis, que é e sempre vai ser minha cidade favorita.

11. O que me irrita: falta de educação.

12. Frase ou palavra que fala muito: em inglês: "Jesus Christ!", "oh my gosh!". em português: "putz!"

13. Palavrão mais usado: shit. perdi a habilidade de falar palavrão em português.

14. Desce do salto e sobe o morro quando: não sei, eu sou muito zen, e é preciso MUITO prá me irritar. mas perco a paciência com mais facilidade quando estou muito cansada ou sobrecarregada e as pessoas ao redor não tão nem aí (coisa que acontece muito na minha vida, deve ser carma.)

15. Talento oculto: construir coisas. tenho boa noção espacial.

16. Não importa que seja moda, não usaria nem no meu enterro: muita coisa, sou a maior chata com roupa. mas o fim da picada prá mim é roupa de tchutchuca. tipo topzinho com calça jeans mostrando o útero e sandalinha alta. nem sob tortura.

17. Queria ter nascido sabendo: tocar violão.

"I am half sick of shadows"


Técnica Mista (Aquarela, gouache, grafite e lápis de cor) sobre prancha de ilustração,
9 x 12
2009
$150

Model: Adhara Batul

Ilustração para um breve momento do poema "The Lady of Shalott, de Lord Tennyson.

Waterlily


Técnica Mista (Aquarela, gouache, grafite e lápis de cor) sobre prancha de ilustração,
9 x 15 pol
2009

Modelo: Tamia M

$180

há umas duas semanas atrás comecei a sentir uma imperiosa vontade de trabalhar numa peça sobre aborto. cheguei a fazer um trabalho de ilustração meio nouveau a alguns anos, mas nada perto desse trabalho que comecei a desenvolver no início dessa semana e que resolvi chamar Nossa Senhora dos Anjos Idos.

escrever esse post foi muito difícil, uma vez que me vieram a cabeça uma série de questionamentos que levaram a outros que levaram a outros... quem me conhece sabe que minha postura em relação ao aborto é irredutível: sou super pro life, e me entristece saber que esse termo hoje em dia ficou associado a pessoas retrógradas e conservadoras. mas pela minha forma de ver a vida - espiritualista convicta - não poderia jamais ser de outra maneira, já que o espiritualismo te faz ver a vida de forma multidimensional, sem as limitações do materialismo. mas essa é minha visão, e não desejo de maneira nenhuma empurrar isso prás pessoas como sendo a única verdade que existe. enquanto não houver um consenso entre a comunidade científica a respeito de onde começa a vida, fica muito difícil saber a verdade dos fatos. mesmo sendo muito sensível a essa questão, que me causa um misto de revolta, compaixão e tristeza, tentei resistir a tentação de fazer um trabalho panfletário, o que seria muito chato, e depois de alguma reflexão concluí o quanto é difícil trabalhar com um assunto tão delicado e tão cheio de contradições. resolvi então usar mais o meu emocional do que a razão e me abster de dar opiniões. minha idéia foi então converter o trabalho numa espécie de prece visual, não apenas pelos espíritos interrompidos em seu processo reincarnatório como pelas mães que por uma ou outra razão se vêem obrigadas a interromper esse processo, que por suas profundas implicações a nível espiritual não são passíveis de ocorrer sem alguma forma de dor.

como quase sempre acontece, o trabalho toma suas próprias rédeas e eu apenas me deixo conduzir. a princípio imaginei uma espécie de entidade elevada, uma santa mesmo, que cuidaria dos pequenos espíritos e das mães em sofrimento. algo como a compaixão personificada. não deu certo. o rosto que apareceu não foi lá muito suave, mas antes até mesmo um pouco severo. ela se cobre de forma displicente com uma espécie de manto escuro, por onde o coração dourado transparece. achei importante o coração... porque o melhor juiz para esse tipo de questão só pode ser o amor, né? outra coisa que me veio e que achei bastante interessante foram os cabelos... que vieram como enormes raízes de uma velha árvore, ou como tentáculos, ou ainda como serpentes... descendo sobre duas figuras femininas mascaradas que estão como a pedir abrigo sob as vestes da santa, ou deusa.

in progress: Our Lady of the Angels-GoneAlign Center

existe um mito que é visto como o polo oposto da Grande Mãe doadora, que é o da Mãe Terrível. esse mito representa o domínio dos instintos e dos poderes do inconsciente que não se encontram controlados pelo ego. a Mãe Terrível não nutre nem protege; ela é a negadora do feminino em seu polo positivo, castrando, reprimindo e até mesmo matando seus filhos. ela é representada em diferentes culturas como deusas negras e destrutivas, como a deusa hindu Kali, a balinesa Ranga, ou ainda como górgonas. as madrastas e bruxas dos contos de fadas também são relacionadas a esse aspecto da Deusa. todas essas deusas são identficadas com répteis, aranhas ou cobras (engraçado como minha figura inicialmente me lembrou mesmo a Medusa...) enfim, acabei encontrando nela uma grande identificação com esse mito e ainda estou em dúvida se ela deveria ser mesmo uma deusa consoladora ou refletir inteiramente o aspecto negativo do feminino. (notem que no mundo dos mitos e na natureza não existe essa conotação maniqueísta de negativo = mau e positivo = bom. e que minha tentativa de questionamento aqui no post não pretende ser de maneira nenhuma acusatória, como se a Mãe Terrível fosse a malvadona e a Mãe Criadora a boazinha-doadora. as duas são aspectos da Grande Mãe e contém em si aspectos da psique que estão presentes em todas as mulheres.)

in progress: Our Lady of the Angels-GoneAlign Center

intrigante essa relação do aborto com o mito da Mãe Terrível. acredito que a reflexão sobre esse arquétipo possibilite trazer à luz um pouco da psique das mulheres que por um ou outro motivo se neguem a desenvolver a faceta criadora do feminino (vejam bem que essa posição não envolve o aborto terapêutico, mas o aborto que ocorre por livre vontade da própria mãe, por motivos os mais diversos). respeito muito a posição das mulheres que não desejam ter filhos, que não sentem a menor conexão com a maternidade (embora não acho que isso justifique o aborto), mas acho perigosa a visão de muitas feministas que acham que fazer aborto é sinal de liberação e controle sobre o próprio corpo e sobre seu comportamento sexual. acho bem revelador esse trecho de um dos meus livros de cabeceira, "Jung e o Tarô - Uma Jornada Arquetípica", da Sallie Nicholls, quando ela fala da Imperatriz, arcano que é o arquétipo da completude feminina:
O aspecto devorador da deusa torna-se aparente toda a vez que a mulher negligencia o seu verdadeiro reino, que é o relacionamento, e se torna faminta de poder; nesse momento ela vira realmente a devoradora do homem. Sua força, que já não é a força sutil do amor, transforma-se no amor estridente do poder. (...) Fascinadas pelo poder, muitas mulheres deram a impressão de haverem perdido o contato com a muita feminina criatividade que pretendiam demonstrar. Nas profundezas do seu ser, a maioria das mulheres, dentro e fora desse movimento, procura realmente uma igualdade pacífica e um relacionamento criativo com os homens, mais do que a predominância e o poder sobre eles. Entretanto, (...) o nosso é um tempo de terrível violência, em sua grande parte totalmente irracional. Na confusão geral, o grito sanguinolento da feminista devoradora de homens é ouvido em todo lugar. Dir-se-à que a Imperatriz, a quem foi negado por tempo demasiado longo o reino que por direito lhe pertence, se ergue das profundezas com a fúria infernal da mulher escarnecida. (...) É compreensível que, na busca por sua verdadeira essência, a mulher apareça sob muitos aspectos."
para quem não conhece o tarot, a Imperatriz é o arcano que representa a mulher completa, emancipada e plena, consciente de sua criatividade e "governante pelo amor". a que tem todas as deusas equilibradas dentro de si. minha esperança é a de ver um dia a mulher chegando a essa condição de plenitude... embora saiba que não dependa inteiramente dela, pois há todo um sistema que favorece o afloramento da "Mãe Terrível", impedindo que a Mulher-Imperatriz assuma o controle de seu papel criativo.



etapas de construção de "Estudo para cabeça de mulher"


Tecendo meu coração
e Estudo para cabeça de mulher são mais dois experimentos meus usando aquela técnica que mencionei , que desejo continuar explorando daqui prá frente. cabeça cheia de idéias para novos projetos. mas o alívio maior é o de não precisar pensar muito em fundos para as pinturas. sou um horror para planejar fundos, e muitas vezes acabei estragando trabalhos inteiros por não ter acertado num fundo adequado.

gosto especialmente de como as figuras estão se tornando meio etéreas e "fantasmagóricas", graças à aplicação de algumas camadas de aquarela branca sobre as figuras inacabadas e lápis de cor branco para acentuar as áreas de maior brilho.


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