os brasileiros têm muitos mitos em relação aos Estados Unidos e ao povo daqui que me irritam. talvez um dos piores seja o de achar que todo mundo que vêm para cá como imigrante se dá bem, fica rico, etc. eu moro aqui há quase 3 anos e, apesar de trabalhar um bocado para ter meu trabalho reconhecido, continuo tão dependente do meu marido como no dia que cheguei aqui. no entanto, um bocado de gente pensa que estou muito bem de vida, obrigado, e que os países de primeiro mundo são o paraíso na Terra.

prá começar, a América não passa de um ídolo de pés de barro. já teve seu período áureo, mas agora é só um império que vai decaindo a olhos vistos, entre produtos made in China, corporações famintas por dinheiro e o retorno da Santa Inquisição travestida de igrejas evangélicas. oportunidades ainda há - principalmente para quem não se importa em limpar chão ou ficar atrás de um balcão do Margh Donald´s. mas se seu negócio é trabalhar fazendo algo que honre seus muitos anos sentado em bancos escolares e universitários, é melhor você ser muito bom e se preparar para trabalhar dobrado, quem sabe até estudar mais para se enquadrar às exigências americanas. porque a realidade do trabalho na América, senhores, é duríssima. justamente por causa das oportunidades, as pessoas acreditam e vão atrás do que querem, fazendo a concorrência ficar ainda mais acirrada. aqui não tem "jeitinho" nem padrinho (esse deve até ter, mas não de forma escancarada e cafajeste como no Brasil.) mesmo com sorte e ajuda, tem que ter talento e trabalhar duro. esqueçam os fins de semana e férias remuneradas, o FGTS, o décimo terceiro, e dêem graças a Deus pelas misericordiosas leis trabalhistas do patropi, porque aqui se não trabalhar, não come.

minha área - ilustração e artes visuais - é bacana por ser muito ampla e variada. aqui as pessoas gostam e compram arte (nem que seja prá decorar a sala), além de, em geral, respeitarem e valorizarem o artista. o mercado de publicações - livros e revistas - é um mundo. o que não faltam são nichos onde se enquadrar, dos mais conservadores aos mais insólitos. o que não quer dizer que tem lugar prá todo mundo. tem muita gente insuportavelmente boa disputando mercado, seja ele qual for. o que significa que você, além de ter que estar entre os melhores, tem que ser onipresente. não adianta só colocar um site na internet e esperar os pedidos, não funciona desse jeito. tem que fuçar tudo quanto é canto e colocar a cara. se for um artista comercial, precisa estar atento ao que seu público em potencial quem ver - o que muitas vezes custa o sacrifício de sua satisfação artística, inspiração e originalidade no altar no lugar-comum. não é fácil.

a quem tem seu emprego estável no Brasil, trabalha com o que gosta, ou com o que estudou anos para fazer, e ainda pensa em vir para cá (alguém ainda pensa? dizem que o Canadá agora é a nova meca da imigração, né?), eu sugiro pensar duas vezes. a vida aqui não é tão fácil quanto se imagina, não existe sistema público de saúde, o mamão papaya (verde e feio) custa 5 bucks no supermercado e até você conseguir pagar o aluguel sem precisar dividir com mais 10 pessoas vão-se longos meses de lavação de pratos e levantamento de bandejas. e esqueça essa história de ficar rico na América, isso já passou para a mitologia do país. se mesmo assim você acha que vale a pena tentar, boa sorte. principalmente se achar que ainda existem coisas mais importantes na vida (como viver com uma certa dignidade, por exemplo) do que a praia e o feijão.

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