decidi me dar um intervalo mais prolongado do triptico e trabalhar em um projeto diferente. já que eu havia planejado inscrever uma peça na linda exposição Embracing Our Differences, decidi começara trabalhar nela. achei que esta pudesse ser uma boa oportunidade de mostrar em mais detalhes como eu crio e executo um trabalho - e o quão errático e maluco o processo todo pode ser.

a imagem a ser inscrita na exposição não deve ser muito complexa, mas antes transmitir a idéia de aceitação e tolerância às diferenças de uma forma direta. às vezes não é muito fácil prá mim pensar com simplicidade - mas não porque eu planeje isso. tive então a idéia de criar um grupo de figuras andróginas de cores diferentes emergingo da terra. as figuras não deveriam mostrar em seus corpos nada que lembrasse gênero ou raça. as cores seriam as comuns, tipo vermelho, verde ou amarelo, e não cores de pele. a intenção aqui não é a de focar em uma diferença específica, apenas de lembrar que todos somos irmãos porque nascemos do mesmo jeito e quando morremos, morremos do mesmo jeito e voltamos para a Terra que nos deu origem.

quando ainda não tenho idéia do que quero pintar, eu geralmente alimento a minha cabeça com imagens, vídeos e música. na maioria das vezes minha busca não dura muito. eu tenho muita facilidade para imaginar coisas, e às vezes apenas uma única visão de padrões nas asas de um pássaro, um belo tecido drapeado ou um incomum céu poente são o suficiente para me encher de cores e formas. e quando eu quero colocar um grupo de pessoas numa pintura preciso primeiro fazer alguns estudos a fim de encontrar uma composição harmônica. então vou para a minha coleção de referências, abro o Photoshop e começo a escolher fotos e brincar com elas, posicionando-as até criar uma composição que me agrade. é quando o trabalho de verdade começa e mais idéias sugem. às vezes o próximo passo é copiar a imagem num esboço tosco no meu caderno de desenho e começar a criar a partir dela. outras vezes, quando eu tenho uma clara idéia do que eu quero, vou direto para a placa de ilustração (ainda não sei como chamar illustration board em português...) como a imagem ainda não está bem definida na minha cabeça, é melhor fazer uns estudos primeiros.

no caderno de desenho as coisas começam a mudar. primeiro, percebo que as figuras entrelaçadas parecem melhores com os seios que lhes são de direito. a idéia inicial para o projeto começa a se esmigalhar. segundo, começo a ver galhos saindo dos braços e dos cabelos. o grupo de figuras agora é uma grande árvore.

ok, podemos usar a árvore para representar estrutura, por exemplo. diferenças estruturam o mundo, fazem dele um lugar mais rico e interessante. só que agora as figuras têm seios, são mulheres. desconfio que minha idéia esteja se dissolvendo cada vez mais.

agora eu não sei o que fazer com uma grande árvore cujo tronco é formado por três mulheres entrelaçadas. mas eu amo a idéia, e quero prosseguir. só que não é mais um projeto para o Embracing the Differences. é algo diferente que ainda não sei o que é.

a palavra veio à minha cabeça do nada: Árvore da Vida.

eureka!! o que poderia ser mais apropriado para uma árvore da vida do que uma árvore feita de mulheres? fico super animada. quase imediatamente começo a desenhar as figuras na placa, usando lápis 2H e HB.


raminhos surgindo de dedos...

é por isso que eu digo que muitas vezes as nossas criações não pertencem realmente à nós. elas parecem ter vida própria. não importa o plano que tracemos para elas, elas podem acabar se tornando uma coisa totalmente diferente. nós artistas somos só um canal.

terminei o lápis hoje, ou pelo menos o que eu chamo "o básico". ao fim do processo eu conserto o que eu julgo serem falhas e realço as sombras usando um lápis mais macio (geralmente 2B ou mesmo 4B, mas nada mais macio que isso).




agora é quando começa a diversão. o próximo passo é criar os abstracionismos e definir os ramos, folhas e outros elementos que eu quero na árvore. confesso que ainda não estou bem certa do que colocar além de pássaros e animais. uma Árvore da Vida é algo importante e merece ser bem pensada a respeito. vamos ver que tipo de insight me vem à cabeça nos próximos dias.

1 falas:

Pareço redundante em dizer, mas é lindo, lindo, lindo. Os dedinhos com os raminhos estão maravilhosos!! Estou muito ansiosa para ver esse trabalho. Eu sou muito "into" esse tema de árvore da vida. A propósito, você já assistiu "The foutain" com o Hugh Jackman? Aqui foi traduzido como "Árvore da vida". É um filme lindo.
Beijocas.

7:57 AM  

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