O Grito

já a algum tempo venho recebendo um bocado de visitas do Brasil ao Mesmerized, coisa que sempre me deixa felizona. como ninguém tem a obrigação de entender inglês, muito menos o meu, resolvi colocar aqui os mesmos posts que coloco lá, devidamente traduzidos. é legal não só porque os meus visitantes de lá poderão ler os posts na língua-mãe, mas porque vou ter um motivo a mais para atualizar o blog com mais frequência. afinal, a pintura tem absorvido uma grande parte da minha vida e nada mais justo que eu dê a meu trabalho um pouco mais de espaço por aqui.

vou começar mostrando e falando um pouco da cria mais nova, O Grito (The Scream).

The Scream

esse é basicamente um trabalho sobre a violência contra a mulher, um assunto que me sensibiliza muito não só por ser mulher, mas também por ser um ser humano e por sonhar e trabalhar por um mundo mais pautado em respeito e igualdade.

quando eu estava pesquisando e buscando referências para o trabalho (vasculhei e li diversos posts do blog da Lola, procurei por outros artistas que houvessem trabalhado o mesmo tema, li artigos sobre a condição feminina em diferentes países, etc), a primeira certeza que tive foi a de que não queria uma peça que passasse uma atmosfera opressiva ou triste ou que mostrasse apenas a dor da violência e do abuso. eu queria algo que fosse masi dinâmico, que funcionasse como uma "voz", que pudesse ajudar as pessoas a refletirem sobre como mudar as coisas.

minha primeira visão foi de uma peça monocromática, em tons de marrom, com alguns toques de vermelho bem forte. porém, mais uma vez eu não pude fazer nada contra o meu impulso para cores e saí distribuindo cores quentes pelo desenho inteiro. no fim, elas acabaram contribuindo para o dinamismo e força do trabalho.

o simbolismo da pintura é bastante simples e direto. há uma figura dual no centro. ela pode ser a mesma mulher em duas diferentes atitudes, como queira. a ruiva está assustada e dolorida. ela segura o próprio coração, que sangra, e usa uma máscara para se manter escondida de julgamentos e outras perdas. ela pode ser a jovem que foi estuprada numa festa depois de beber demais, a que sofreu abuso por um membro da família mas preferiu esconder para não causar problemas na mesma, a mulher que apanhou do marido mas preferiu ficar calada por medo de perder a custódia dos filhos. ela pode ser uma das mulheres do Congo. ela pode ser eu, ou você.

a mulher de cabelos escuros não usa uma máscara. ela está gritando - embora às vezes acho que na verdade ela está cantando. o que ela liberta de dentro dela é um pássaro, vermelho como a vida. é o desejo de se libertar de um mundo conquistado pela força, não pelo amor. ela grita seu direito de ser tratada como um ser humano ao invés de uma cidadã de segunda-classe, como uma parceira ao invés de uma subordinada. seu direito de expressar suas próprias idéias e ter sua própria atitude sem que seja demonizada por isso.

há também máscaras na base da pintura, uma pilha de máscaras sem rostos por trás. elas uma vez pertenceram à mulheres que resolveram gritar ao invés de se manterem caladas e anônimas. que decidiram parar de fingir que o mundo é como é e que nada pode ser feito para mudar. mas há tanto que se pode fazer apenas por se ter voz... exigir responsabilidades políticas e sociais. educar as novas gerações na direção do respeito e da não-propagação de velhos hábitos que colocam os homens em posição privilegiada. denunciar. em outras palavras, exigir respeito por ser um ser humano.

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