tava dando uma googlada no meu nome e achei umas imagens minhas sendo usadas para ilustrar artigos de blogs e fazendo parte de diretórios de arte e ilustração. tem site em francês e do leste europeu, escritos naquelas línguas misteriosas. não recebi pedidos de autorização, mas se as imagens estão sendo usada com propósitos justos e com os devidos créditos, não ligo. acho até positivo. os artigos eram de blogs feministas. adorei ver principalmente O Grito ilustrando artigos a respeito de violência contra a mulher. menos de um mês de nascido e já está rodando por aí e cumprindo o fim a que se destina. que bom! isso para mim é um grande incentivo para continuar criando trabalhos que apoiem causas e provoquem reflexões.

como já disse anteriormente, sou particularmente sensível às questões que envolvem o feminino. meu trabalho, apesar da temática simbolista/metafísica, esteticamente sempre foi muito orientado para a representação da figura feminina. então ele acaba tendo também uma função de female empowerment. como eu mesma explico na minha declaração de artista, que vou publicar aqui qualquer dia, apesar da carga de erotismo, minhas mulheres não são femme fatales, mas deusas, bruxas e sacerdotisas. são senhoras de mistérios, aquelas que conhecem segredos de vida e morte, que carregam a vida e a celebram.

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se você entender feminista como alguém que se indigna contras as injustiças cometidas contra as mulheres, que briga pela diluição do patriarcalismo, que não se deixa levar pelas imposições sociais e segue seu próprio caminho, eu sou feminista, sim. mas na verdade, eu sou é uma militante pelo amor, pela vida, liberdade, respeito e justiça. discordo das idéias de muitas feministas "oficiais"; não sou a favor do aborto, salvo em circunstâncias especiais; acho que mulheres e homens são "iguais" por serem ambos humanos e dignos de reconhecimento e respeito, mas seus papéis são diferentes. e graças ao casamento, que derrubou um bocado de idéias deturpadas e até alguns preconceitozinhos que eu tinha, aprendi que não é vergonha nem significa opressão, por exemplo, ficar em casa cuidando do bebê full time enquanto o marido traz o dinheiro para casa. por que eu era assim, levando tudo a ponta de faca. achava vergonhoso não trabalhar e ser sustentada por um homem, esse ser involuído (embora depois de quase 4 anos de casamento não tenha ainda conseguido me sentir 100% confortável com a situação, pelo menos não acho mais vergonhoso.) também parei de criticar as donas de casa, aquelas criaturas intelectualmente inferiores que vivem para agradar seus homens. o trabalho doméstico é brabo, pessoas, e sem direito a fins-de-semana e remuneração em espécie. e se tem mulher que curte, que faz por amor, e se tudo o que é feito por amor vale a pena, porquê criticar? você pode até dizer que elas vivem sob um comportamento imposto, que faz tudo parecer muito "normal" e que é assim que deve ser, que a felicidade doméstica que elas experimentam é uma felicidade pasteurizada, e pode ser que você esteja certo. mas eu vou te dizer uma coisa: eu não me considero uma pessoa desaculturada nem desinformada, tenho pavor de panelas mas te digo que é bom, sim, cuidar das pessoas que você ama e vê-los felizes com algo que você proveu. meu marido me respeita e jamais me impôs o que quer que seja (se assim fosse garanto que não estaríamos mais juntos), e ele também tem suas tarefas domésticas - embora as minhas ainda sejam maiores, nada é perfeito -, mas eu não me considero de forma nenhuma estar vivendo de forma opressiva. principalmente porque também batalho por uma carreira, o que para mim é importantíssimo, e sou em tudo ajudada e apoiada por ele. seria outra coisa se ele me dissesse "prá que você quer pintar e dar aulas se eu te dou tudo o que você precisa?". isso sim soaria machista e opressor. acho que aqui somos mais como um time, onde todo mundo se ajuda e se respeita. mas e se eu não esquentasse a cabeça com carreira e me sentisse totalmente realizada no lar, e aí? não é coisa lá muito sábia, acho que todo mundo precisa ter um meio de prover para si mesmo, já que não sabemos o que pode acontecer amanhã, mas cada um com seu cada um. não dá prá levar tudo tão a ferro e fogo. a chave de tudo nessa vida é o equilíbrio, e até ideologias precisam de moderação e bom senso.

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no fundo, acho que viver sob bandeiras ideológicas também é uma espécie de prisão. luta-se tanto contra a opressão disso e daquilo, e acaba-se vivendo sob a opressão das idéias. deixa-se de casar porque o casamento é uma instituição de dominação feminina, mas também deixa-se de experimentar felicidades simples que apenas o convívio com quem se ama pode trazer. deixa-se de gerar um filho porque não se quer perder o controle e o direito sobre o próprio corpo, mas deixa-se de experimentar a maior e mais gratificante forma de amor que existe. idéias não são criadas para que as pessoas as sirvam, mas para servir às pessoas. e pessoas são seres humanos com corpo, cabeça e coração. elas têm prazer e dor. por isso a necessidade de se conhecer, de se compreender, para se fazer boas escolhas baseadas em si mesmas, e não em ismos.














Pregnant Woman with Man,
Gustav Klimt

3 falas:

Oi, Patricia,
a Lola, minha filha, me mandou teu blog, que eu não conhecia.Que alegria, porque é maravilhoso. Já estou vendo que vou virar tua maior fã. Tó correndo agora, que tenho meu aluno de espanhol das Segundas que chega já já. Mas vou ver mais tarde com muito carinho e com total atenção porque me parece que você é uma artista tão especial,que até consegue mostrar seu proceso de criação. É deslumbrante. Amei teus azuis virando cinzas e lilás. A tua linha é maravilhosa, me lembra um pouco Dali, os desenhos dele, se bem que você deve amar o Klimt de paixão, ne? Esse cachorro do Hecate me lembrou um Goya que eu amo e que mando em homenagem a teu talento e a minha alegria de ter te conhecido. Bjs. Nelly, a.k.a. La Mamacita

5:28 PM  

Patricia, eu nunca tinha mandado imagem nos comments, vai ver que é diferente porque não consegui. Sorry, vou aprender e mando. Bjs. Nelly

5:30 PM  

querida Nelly, é uma grande honra e um prazer imenso te receber por aqui. não tenho palavras para agradecer as palavras tão gentis. o que sua filha escreve é uma inspiração para mim, que até usei vários posts dela como fonte de referência e informação para criar uma peça ("O Grito", sobre violência contra a mulher). eu gosto muito de mostrar o que faço e como faço, pois para mim o artista é antes de tudo um operário do universo. não gosto daquela aura do artista como criatura privilegiada e distanciada dos simples mortais, sabe como é? é legal mostrar que existe todo um processo, e que ele requer um bocado de suor! que privilégio te lembrar Dali! e sim, eu sou uma apaixonada por Klimt, é minha maior inspiração não apenas estilisticamente como também todo o simbolismo de seu trabalho. também amo Goya!! ah, eu amo muitos artistas, de diferentes épocas e estilos. também não sei como mandar imagens nos comments, não acho que isso seja possível, pena. queria conhecer teu trabalho. um beijo carinhoso e agradecido.

10:48 PM  

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