"yesterday i got so old
i felt like i could die
yesterday i got so old
it made me want to cry"
In between days, The Cure


acho que eu atraio gente passando, ou prestes a passar, pelo Retorno de Saturno, porque se tem algo que me acontece com certa frequência é alguém pedindo prá "dar uma olhadinha no meu mapa", por estar com algum problema brabo, ou se sentindo meio esquisito - geralmente com depressão ou com uma sensação de estar carregando o mundo nas costas. então só de dar um olhada da data de nascimento da pessoa tudo se esclarece: 28, 29 anos (às vezes até um pouco antes disso)? tem cheiro de Retorno de Saturno, babe.

fala-se muito do tal Retorno, mas como tem muita informação errada circulando por aí, e como pouca gente se dá ao trabalho de visitar um bom site de astrologia prá saber o que é, vou tentar explicar.

quando a gente nasce, os planetas todos estão lá, cada um numa determinada posição do zodíaco. só que eles são dinâmicos, eles caminham, cada um no seu passo e velocidade característicos, percorrendo os doze signos dentro de um certo tempo. sempre que cada planeta, na sua viagem pelo zodíaco, chega novamente ao mesmo ponto onde ele estava quando a gente nasceu, temos um retorno. o retorno da Lua se dá a cada mês, o do Sol, a cada ano - no dia do nosso aniversário. vivemos retornos de cada um dos planetas às vezes mais de uma vez durante a vida, menos de Netuno e Plutão, que são planetas muito lentos - Netuno leva 168 anos prá dar uma volta inteira pelo zodíaco, e Plutão, 248, e ninguém vive tanto. Saturno leva em média 28 anos. é portanto comum que se vivencie dois, até mesmo três retornos de Saturno ao longo da vida.

mas o que isso significa, afinal? a grosso modo, sem querer entrar em detalhes de como funcionam os aspectos planetários, podemos dizer que cada retorno tende a potencializar o simbolismo daquele planeta em nós. sentimos a sua influência bastante amplificada. Saturno, por exemplo, é um planeta de estruturas. é ele quem organiza, quem dá forma, arcabouço, é ele quem cristaliza e torna real. portanto, a cada vez que Saturno voltar à mesma posição em que ele estava no momento do nosso nascimento, vamos sentir um impulso muito forte para criar estruturas, para cair na real e dar uma organizada na vida. isso muitas vezes não é consciente, mas vêm na forma de acontecimentos que forçam a gente a tomar esse tipo de resolução, muitas vezes a contragosto. é muito comum que nós encaremos esses acontecimentos como verdadeiras crises, e que até procuremos resistir com medo de perder aquilo que já conquistamos e que nos é tão confortável.

no primeiro Retorno, que como eu já disse acontece em média entre os 27-29 anos, somos forçados de uma forma muito peculiar a encarar certas "verdades" da vida. eu costumo dizer que é depois do Retorno de Saturno que se vira "gente". como Saturno é um planeta ligado ao elemento Terra, ou a tudo aquilo que mantém ligados ao plano físico, é comum aparecerem as crises que nos obrigam a manter os pés no chão. o povo que vive com a cabeça nas nuvens tende a sofrer consideravelmente durante essa fase, os dependentes de algo/alguém que faça o papel de papai ou mamãe também. no Retorno tomamos consciência de certas ilusões que até então pareciam muito reais. insegurança, medo, reais ou infundados, vêm à tona. comeca uma série de questionamentos a respeito do nosso lugar no mundo, a respeito do que realmente queremos para nós mesmos, a nível de estrutura, material ou emocional. é aqui que os famigerados "sonhos de juventude" viram fumaça. é aqui que sentimos que precisamos "ser alguém", amadurecer, pois afinal a ameaça do tempo se estende sobre nós como uma nuvem negra. é no Retorno que muita gente passa uma crise braba em casa e se vê forçado a parar de depender da família (ou do marido) para continuar existindo; é no Retorno que muitos relacionamentos acabam porque de repente passamos a enxergar uma outra realidade, seja na pessoa com a qual nos relacionamos ou na própria relação em si; é no Retorno que muitas vezes nos vemos diante de uma situação que nos obriga a uma total reformulação de hábitos e valores em prol de algo maior e mais importante. a palavra-chave para o momento é responsabilidade. e porque responsabilidade tende a tolher, restringir, a nos roubar o direito de fazer o que queremos na hora em que temos vontade, Saturno é encarado como um elefante que senta em cima da gente e não nos deixa respirar. mas quando o elefante resolve sair de cima, acreditem, a gente se vê diferente, mais seguros de nós mesmos, mais maduros e centrados.

quando a gente é adolescente, sonha com os 20 como se fosse a melhor coisa do mundo. como se aquela fase representasse tudo o que a gente sonha em matéria de realização e segurança. e é frustrante perceber que, em geral, não é. nos primeiros anos continuamos tão frustrados e com tantos questionamntos como qualquer adolescente. vivemos o conflito de que não somos mais teens mas por dentro nos sentimos (e até continuamos a nos comportar) como se ainda fôssemos. isso tudo gera um desconforto, pois não sabemos se é anormal continuar nos sentindo e comportando daquele jeito. as coisas começam a mudar um pouco de foco quando o Retorno de Saturno se aproxima, e na época exata do retorno, a gente começa a se cobrar tudo o que sonhávamos realizar quando estivéssemos na casa dos 20 e não aconteceu. eu tinha acabado de completar 29 anos quando meu Saturno voltou. não me lembro de ter ficado particularmente deprimida (afinal, já conhecia essa face de Saturno, tive depressão crônica desde a infância), mas o conflito idade versus realização profissional ficou muito contundente. eu me via com quase 30 anos, formada em moda, 10 anos de teatro nas costas e uma banda de dark folk, mas não tinha nada, não havia construído nada com todo aquele background. resolvi então dar uma "forma" pra tudo o que sabia e voltar prá faculdade de artes, que abandonara aos 21 anos por não saber se queria realmente aquilo (queria), e comecei a estudar para o vestibular da Uerj, já que não tinha mais papai pagando a facul particular, como da primeira vez. foi o ponto de partida para me sentir mais integrada na minha realidade e para começar a perceber quem eu era de verdade, qual era o meu caminho na vida. a partir daí comecei a me sentir mais segura a respeito das coisas que queria. claro que virei a mesa quando mal havia começado a carreira no magistério e a me sentir "alguém", causando uma série de outros desconfortos, mas isso já é uma outra história.

aos que estão vivendo, ou prestes a viver o Retorno de Saturno, eu digo vai passar. e que depois tudo fica melhor (se não melhorarem, é porque você não conseguiu deixar prá trás aquilo que precisava ir). você vai começar a olhar o mundo por trás de outras lentes, menos coloridas, é verdade, porém, mais reais.

comece fazendo uma lista de todos os seus medos e inseguranças. depois reflita sobre cada um deles, em como eles nasceram, e de onde. pense no que você pode fazer para não ter mais medo. pense em situações passadas de invulnerabilidade e insegurança e no que você fez para superá-las (correr não vale.) se você é ligado a artes ou artesanato, procure trabalhar em objetos tridimensionais. molde barro. crie estruturas, maquetes, coisas que precisem de uma solução para ficarem de pé. quando esse tipo de energia planetária se manifesta em nós, a grande sacada é trabalhar com ela, não fugir dela. organize-se, trabalhe, defina metas. construa, cristalize. não é tempo de desperdícios ou de viver irresponsavelmente, nem de bancar o bebê chorão. você pode perceber que as coisas vão caminhando meio lentamente, mas o que vem sob a influência de Saturno, vem para ficar. abrace a oportunidade.

a bela imagem acima, que ilustra bem o que o Retorno de Saturno significa, é da autoria de Powel Jonca, de quem não encontrei nada sobre na internet.





sei que esse é o chavão dos chavões, mas passaram rápido esses dois anos. mais rápido do que eu poderia imaginar. dá a impressão de que o tempo de alguma forma parou dentro da gente, mas seguiu veloz do lado de fora. parece que voltei do hospital da semana passada, com você pequenina nos braços, exausta pela semana onde dormira uma média de duas horas por dia, mas com uma força por dentro que me mantinha corajosamente de pé. desde então tenho acompanhado cada momento, cada passo seu. sou daquelas mães afortunadas que não precisam deixar seus filhos aos cuidados de outros justo nos primeiros anos, e isso nos fez quase a mesma pessoa. às vezes penso se você consegue entender que não somos, porque é difícil te deixar nem que seja por trás de uma porta fechada. me pergunto se ficaremos assim a vida toda, como vai ser quando chegar aquela fase onde as crianças se acham auto-suficientes e ficam com vergonha de andar com os pais à tiracolo. mas eu vou entender, juro.

você já fala um monte de palavrinhas - todas em inglês, prá um pouco de tristeza minha. mas também tenho parte da culpa, graças ao costume de falar inglês todo o tempo. mas não desisto de querer que você cresça bilíngue, já que você é metade brasileirinha, apesar da caucasianice. amo seu riso fácil, seu interesse pelos livrinhos e, acima de tudo, seu amor pelos bichos. é comovente ver com que loucura você corre para abraçar a Morgan, nossa gatinha, que não é muito melosa e às vezes se impacienta e foge de você, mas que já te ama e respeita do mesmo modo que a mim e a seu pai. juro que ela parece tomar conta de você quando você sai para brincar no quintal, sempre por perto, como um guarda-costas. dia desses você levou um tombo da escadinha no closet e ela correu para ver o que tinha acontecido. eu sabia que crianças e bichos eram cúmplices mas nunca havia testemunhado isso. o mundo é mágico, né?

outra coisa que me encanta é sua bondade. você é um espírito generoso, doce, parece que veio para ajudar a curar o mundo e eu não tenho dúvidas disso. as pessoas sentem isso em você, ficam atraídas. você adora agradar a gente, e fica feliz demais quando nós reconhecemos isso e te aplaudimos a cada livrinho que você põe de volta na estante, ou a refeição que consegue terminar. você gosta de compartilhar coisas, adora dividir sua comida comigo ou com a Morgan, e às vezes quando você puxa a minha cabeça prá perto e faz carinho nos meus cabelos, me sinto amparada por um anjo. mas por outro lado você é rebelde, teimosa até a medula, é difícil fazer você entender que uma coisa é errada, pois isso parece não te convencer nem um pouco. às vezes é exasperante, mas a verdade é que eu sorrio por dentro... tomara que não seja apenas coisa de criança e que você siga com esse inconformismo.

você não faz idéia de quantas vezes já te beijei os cabelos agradecendo por você ter entrado na minha vida.

Feliz Aniversário.

ontem à noite uma mulher veio à nossa porta perguntando se não queríamos trocar um gift certificate por 20 pratas em dinheiro. ela precisava comprar algo na farmácia e só tinha o cartão, obviamente não válido em farmácia nenhuma. como raramente temos cash em casa - pagamos praticamente tudo com cartão de crédito ou débito, - não deu prá ajudar.

comentei com meu marido que a coisa estava começando a ficar meio " à brasileira" por aqui. é possível que isso se torne mais frequente daqui prá frente. pessoas vindo à sua porta pedir coisas, ou te abordando em estacionamentos, como aconteceu com minha sogra um dia desses.

as coisas aqui na América não vão indo mesmo muito bem. todos os dias ouvimos notícias de empresas reduzindo drasticamente o número de funcionários. há pessoas com até mais de 20 anos de casa ficando sem seus empregos de uma hora prá outra. e o pior, sem garantias além do seguro desemprego, já que as leis trabalhistas daqui não são nem de longe como no Brasil. fala-se até mesmo numa segunda Grande Depressão, o que não é realmente novidade prá mim, já que o povo da Constelar tinha previsto isso uns bons dois anos atrás.

meu marido se aposentou recentemente depois de mais de duas décadas de serviços prestados ao governo. a maioria das pessoas ficou perplexa, sem saber como as coisas ficariam prá gente depois da redução salarial da aposentadoria, já que o salário dele mesmo integral não era lá essa maravilha e eu não contribuo significativamente para a renda da casa. além disso, ainda temos criança prá cuidar. podemos mesmo ter que abrir mão de certos luxinhos, mas eu dou graças a Deus todos os dias pela segurança de poder pagar as contas, fazer compras e pagar o seguro saúde. pensar que não iremos perder isso nunca mesmo com a crise braba que está ai é reconfortante.

*
o sistema de saúde americano, engendrado pelo coisa ruim, também é algo que precisa urgentemente de ajustes . para quem não sabe, os EUA é um dos únicos países do mundo que não possuem serviço público de saúde. se você for muito pobre, você tem direito ao Medicaid, que é uma espécie de plano de saúde do governo. até aí tudo bem. o problema todo é se você não for assim tão pobre mas também não tão "remediado" a ponto de ter condições de pagar o seu seguro de saúde privado. então, querido, é pedir a Deus para não ficar doente, porque se tiver o azar de ir parar num hospital ou clínica para uma dorzinha de barriga que seja, espere receber em sua casa sem demora uma conta que poderá fazer você vender a alma ao capiroto para não ficar encrencado. e se você pensa que mesmo tendo seguro de saúde privado vai ficar livre de tirar dinheiro do bolso, engana-se. geralmente o seguro cobre só uma porcentagem dos seus gastos, dependendo do seu plano. ou seja, só funciona mesmo para que você, em casos extremos, como de uma hospitalização ou cirurgia, por exemplo, não vá a colapso financeiro, já que é estabelecido um limite de dinheiro que poderá sair do seu bolso por ano.

e a injustiça não para por aí. caso você tenha uma condição pré-existente, seja diabético, ou tenha algum problema crônico brabo, esqueça. você tem sérias chances de não se qualificar para plano nenhum. ou seja, vai ter que vender a alma mesmo. ou se mudar para um país onde o seu direito básico de assistência médica seja assegurado. ou esperar a morte chegar. e eu juro que não estou exagerando.

Mr. Barack Obama tem mesmo muito o que fazer por aqui. e eu não acredito que ele vá fazer milagres, não, pois há interesses de muito cachorro grande em jogo, e como são eles que mandam na América, sei não. é esperar prá ver.

...e Barack Obama acaba de ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos. nem quando o Lula ganhou as eleições pela primeira vez fiquei tão emocionada.

não acho que ele segura a crise, mas se trouxer as tropas de volta, investir em fontes alternativas de energia e der um jeito no vergonhoso sistema de saúde americano já está de bom tamanho.

desde que me entendo por eleitora eu voto no Gabeira. ele era aquele cara revolucionário, progressista, com quem eu sempre me identifiquei. um cara que se destacava totalmente da mesmice e caradurismo do Congresso. era só o Gabeira concorrer para alguma coisa e meu voto era dele, religiosamente. portanto, foi com muita alegria e surpresa que recebi, aqui em terras do Norte, a notícia de que Gabeira estava na corrida para prefeitura do Rio. apesar de não votar no Rio, acho a eleição importantíssima porque, mesmo morando na Baixada ou Zona Norte, é lá, na capital, que grande parte da população passa boa parte de seu tempo.

então ontem veio a notícia de que o Gabeira perdeu. mesmo depois de ter feito uma campanha simpática, limpa, diferente e descomprometida com alianças sinistras e politicagem. perdeu porque a classe média achou mais importante ir aproveitar o feriadão (estrategicamente planejado) à ir à urnas. as abstenções foram de mais de 100 mil. era preciso apenas metade desses votos para tirar o Rio do limbo em que foi jogado desde muitos governos atrás.

mas o carioca preferiu ir aproveitar o feriadão. mais valor tem 3 dias de prazer do que 4 anos de choro. afinal, tá todo mundo já acostumado à violência, à favelização, ao descaso, aos corredores lotados dos hospitais sem recursos, à falta de professores nas escolas. é só apertar mais um pouquinho que dá.

vergonha, sabe. vergonha e tristeza. a ignorância continua vencendo. e quem poderia fazer algo a respeito não faz. vai à praia. quem sabe achando que um voto não teria assim tanto peso. o problema todo aparece quando 55 mil pessoas pensam a mesma coisa. depois vai todo mundo colocar uma camisetinha branca e abraçar a Lagoa.

e a letra do Renato Russo não me saía da cabeça.

Quando querem transformar
Dignidade em doença
Quando querem transformar
Inteligência em traição
Quando querem transformar
Estupidez em recompensa
Quando querem transformar
Esperança em maldição:
É o bem contra o mal
E você de que lado está?

*

medo, muito medo. a situação aqui em terras do Tio Sam também está a perigo. só que aqui não tem populismo, cheque-cidadão, nem se troca botijão de gás por voto. a imbecilidade aqui é baseada numa imagem retrógrada de uma América "família" e limpinha, onde todos vão juntos à igreja, não existem gays (nem negros, para muitos) ou socialistas e onde as glórias militares ecoam em cada lar. é nessa imagem com sabor de mashed potatoes e pumpkin pie que metade da América se agarra em busca da preservação de seus valores - e de uma hipocrisia amarelada. vão atrás de Bushes e McCains como se os mesmos fossem os paladinos do sonho americano. que por sinal anda muito mal das pernas. tenho medo de que a metade progressista e idealista da América, a mesma que luta por Obama na presidência, se veja de uma hora prá outra órfãos de sonho. iguaizinhos aos irmãos Sul Americanos da tal cidade maravilhosa.

e depois, a que se agarrar?

pessoas, pessoas. o mundo está mudando, a velha ordem está agonizando e a despeito de todas essa gente do mal, VAI desaparecer. quem for do bem, assuma o seu papel, porque ficar em cima do muro agora não ajuda em nada, apenas consente-se que o mal prossiga. estamos todos dentro do mesmo barco. o capitalismo já caminha para um colapso, para mostrar o quanto a filosofia do egoísmo e do lucro a qualquer preço já não tem mais lugar. é hora de uma mudança de postura, mais global e comprometida com o outro. de entender que jamais haverá paz ou segurança ou prosperidade real se um só ser na face desse planeta estiver sofrendo por causa do que um outro causou.

*

na minha opinião tem duas partes boas na história. uma é que o Gabeira saiu dessa com a imagem mais fortalecida e sólida e uma reputação que valerá muito mais do que 4 anos no poder. plantou uma semente poderosa, deixou um exemplo que deve estar, lá no fundo, martelando de forma indesejada na cabeça de muita gente de "poder". a outra é que, com tudo isso, o Gabeira perdeu por uma margem muito, muito pequena. mesmo com todo o jogo sujo do outro lado. prá mim, isso foi uma vitória. e um indicador de que, aos poucos, o povo vai abrindo os olhos, devagarzinho, o que já denota uma mudança. soube que a mobilização a favor do Gabeira foi belíssima, de gente inteligente e engajada. ainda não foi dessa vez, mas eu acredito que um dia a gente chega lá. porque não se pode retardar por muito tempo o caminhar do progresso.

sou o tipo de pessoa que acredita que a gente tem que passar pela vida contando apenas as bençãos. ainda que a parte onde os problemas e as dores seja maior.


na minha vida, a parte das bençãos com certeza leva a melhor. uma delas é esse moço aqui, libriano típico, que além de talentoso e refinado, ainda por cima é meu melhor amigo.

sei que ele preferiria que eu escrevesse um poema, mas como a inspiração para escrever sobre pessoas reais anda baixa, eu ofereço uma musiquinha que é a nossa cara.

feliz aniversário, Fio. 


esta manhã, pesquisando sobre vegetarianismo, cheguei ao vídeo "Earthlings" ("Terráqueos", em português) no Youtube. não é exatamente um vídeo pró-vegetarianismo, mas um documentário ao mesmo tempo sensível e cruelmente realista sobre as várias formas de subjugação dos animais pelos seres humanos. mostra, sem reservas e sem comentários tendenciosos a favor deste ou daquele movimento, a via dolorosa dos animais para nos alimentar, entreter, vestir, auxiliar nos "avanços científicos", ou seja, todas aquelas coisas que a gente está careca de saber mas finge que não sabe porque ainda é egoísta demais para abrir mão de certos luxos e prazeres.

não consegui ver o vídeo inteiro e pulei várias partes. o que vi quase fizeram as minhas glândulas lacrimais derreterem. fiquei mal-humorada e triste o resto do dia.

depois do supermercado, como de costume, fomos almoçar num dos restaurantes mexicanos da cidade. a visão dos pratos com carne nas fotos do cardápio só me faziam pensar no maldito vídeo. acabei pedindo um prato com peixe, e não com frango, como sempre faço. claro que isso não suaviza nada, é uma morte por outra. tanto o peixe como o frango sofrem da mesma forma, mas eu estava tentando me iludir um pouquinho.

sempre pensei muito em me tornar vegetariana. na verdade, até tentei, uma vez. não durou muito. adoeci - embora não pela falta de carne, acredito eu - e minha mãe me fez comer um peixinho prá restaurar as energias. desde então, a carne voltou com tudo e ficou só o projeto para quem sabe um dia. nunca mais tentei. e porque essa vontade tem se manifestado com força novamente é que eu tenho feito essas pesquisas a respeito do modo de vida vegetariano, cardápios e tudo o mais. eu não tenho o menos problema com comida natural, curto tofu, carne de soja, hamburguer de feijão, todas essas coisas que fazem a maioria das pessoas torcer o nariz. e não acho absolutamente que você está abrindo mão dos prazeres da vida só por não comer carne. prazer é um conceito por demais relativo.

na verdade, eu já liquidei parte do processo há muito: não como carne vermelha desde os idos dos meus 21, 22 anos, creio. minha decisão foi baseda em questões de saúde e espirituais. para quem chegava a comer carne crua, foi difícil, muito difícil, e escorreguei inúmeras vezes. a pior tentação era o churrasco, cheirinho de carne queimando na brasa era duro de resistir. eventualmente chegava a degustar uma linguicinha, uma fatia de presunto. até que parei com tudo de vez. não sei dizer como eu estaria agora se ainda comesse carne, se estaria diferente, mais doente, ou aparentando mais idade. não sei se minha gravidez teria sido mais problemática - nunca tive a menor alteração na pressão ou inchaço, problemas muito comuns, mesmo tendo engravidado já com 35 anos. sei que me sinto bem sem a carne e nunca tive nenhum dos problemas atribuídos a falta dela, como anemia, por exemplo.

como já disse, minhas razões para riscar as carnes do meu cardápio não passam só pela questão da saúde, mas também pelas questões espirituais. há várias coisas que nós não vemos mas que são parte da realidade, coisas que interagem com nossa vida material e a afetam muito mais do que imaginamos. no entanto, o meu principal motivo é mesmo a compaixão pelos animais. sempre me incomodou o fato de gostar de bichos e comer alguns deles. me sinto hipócrita, conivente com uma indústria que talvez seja a mais cruel e covarde da face da terra. e usando o velho pretexto de que o homem está no topo da cadeia alimentar, que é coisa da natureza, etc, vou fritando o meu filezinho de frango e comendo o meu sashimi tentando não sentir culpa.

mas está ficando muito claro para mim, agora, que está sim, na hora em que nós, humanos, comecemos a parar de nos ver no topo da cadeia alimentar e enxergamos os animais como irmãos menores que precisam de nosso auxílio para evoluir. pelo menos em nossa sociedade foi-se o tempo em que os meios de sobrevivência eram escassos e não tínhamos muita opções. hoje em dia temos supermercados abarrotados de coisas e alimentos frescos em qualquer época do ano à altura do braço.

bom, acho que o vídeo me deu o empurrãozinho que faltava, apesar de ter despedaçado o meu coração. não sei o que vai ser daqui prá frente, mas estou praticamente resolvida a abandonar a carne de vez. sei que vai ser um caminho difícil - mas afinal, se consegui me livrar completamente do hábito das carnes vermelhas, há esperança também para as brancas. e se você como eu também precisa de uma ajuda extra para seguir de vez a rota do vegetarianismo, tá aqui a primeira parte do vídeo. mas aviso de antemão, não é para corações fracos.


é curioso, e, dependendo da pessoa, decepcionante constatar como, numa relação interpessoal, a maioria das pessoas vê a outra apenas como um par de ouvidos ambulante. em cada dez pessoas que você conhece, entre amigos e familiares, com sorte você encontra umas duas pessoas que estão realmente interessadas no que você tem prá contar. às vezes nem isso. 


desde que saí do Brasil, dentre o mundão de gente que conheço, apenas umas 3 ou 4 pessoas (e não estou exagerando!) se interessaram em saber da vida por aqui, o que eu faço, como eu me sinto vivendo em terra estrangeira, como foi o processo de adaptação, etc. e olha que, na minha opinião, essas são coisas interessantes de se saber. se eu tivesse um amigo no exterior eu simplesmente amaria saber sobre a vida dele e sobre o país novo. mas as pessoas estão apenas interessadas em me fazer saber delas mesmas. a maioria vive a mesma vida de sempre, algumas com os mesmos problemas de séculos. e é assim que nossa amizade (?) se sustenta. conto nos dedos aqueles com quem realmente posso ter uma relação de troca real.

não que eu não goste de saber o que acontece na vida das pessoas em geral, muito pelo contrário. eu gosto de emprestar meus ouvidos a quem quer que seja, oferecer uma palavra boa na hora da lágrima, rir junto, felicitar pelos triunfos. além de tudo, eu sou uma observadora da vida e um dos meus ofícios é justamente o de ver como elas se comportam, suas experiências, seu aprendizado. eu aprendo muito com as pessoas - nem que seja apenas a como jamais me comportar... mas às vezes me aborrece um pouco em vê-las sempre gravitando em torno de seus próprios umbigos.

mas graças àquelas 3 ou 4 pessoas (que valem por cem) que, tenham os problemas que tiverem, estão genuinamente interessadas no que a vida traz também prá mim, não me sinto realmente só. 



se você é professor, seria uma boa mostrar esse videozinho pros seus alunos. dá pé, é só usar a criatividade para encaixar na sua disciplina. é sempre mais fácil plantar a semente cedo, o que não quer dizer que nós também não possamos mudar, é só ter um pouco de boa vontade.

...

sempre fui uma pessoa bastante frugal nos meus hábitos de consumo. não foi algo aprendido, não é para bancar a politicamente correta, mas algo que nasceu comigo. sou pão-dura, não gosto de esbanjar dinheiro nem de ostentação. nunca vi graça em ter coisas das quais eu não precisava tanto assim, sempre desprezei modismos e minhas coisas geralmente duram vários anos - algumas, como sapatos ou bolsas, quando se tornam irremediavelmente impróprias para consumo, até me fazem lamentar não ter comprado uma cópia para continuar usando.

me casei com uma pessoa que também não dá importância a ter um mundo de coisas, nem ter o que não precisa só prá se "encaixar" (ok, compra mais livros em um mês do que pode ler em um ano, mas livro é livro, né?). estamos longe de ser ricos, não temos muitas das coisas que a família americana padrão tem - dois carros na garagem, por exemplo - mas na nossa frugalidade vivemos muito bem, obrigada. sem essa de ficar criando necessidades desnecessárias (já basta a conexão wi-fi, que desde que entrou aqui em casa se tornou impensável não tê-la.)

...

também tenho pensado mais cuidadosamente na necessidade de se reciclar coisas. não apenas o óbvio, como papel, pilhas, latas, etc., mas objetos mesmo. a umas semanas atrás aceitamos a doação de móveis de quarto para a pequena, vinda de um amigo. os móveis não são nem de longe o que eu queria para ela - são rococó e girlie ao extremo - mas é só usar a imaginação para fazê-los funcionar. retirei os detalhes mais pomposos, como o espelho do gaveteiro (que eles chamam de dresser) e os posts da cama (aqueles postes colocados nos quatro cantos da armação da cama cuja utilidade eu ainda não descobri e que acho um horror.) uma ou duas demãos de tinta branca all over e poupamos o planeta de mais um pouquinho de lixo.

...

umas das primeiras coisas que percebi desde que cheguei aqui na América é esse consumismo descrito no vídeo. as pessoas compram alucinadamente, já que as coisas em geral são muito baratinhas - veja o vídeo também para entender o porquê. é só entrar num Wal Mart qualquer da vida prá descobrir um monte de coisas que você estava justamente "precisando"... e que em poucos meses vão para o lixo, ou para o Good Will mais próximo (espécie de loja de caridade que explora justamente esse lado do americano de descartar as coisas das quais não precisa ou não quer mais, e que acaba fazendo as pessoas se sentirem menos culpadas pelo consumismo louco). afinal, o "lixo" de uns pode ser o tesouro de outros... 

aqui cada casa tem seu "building", uma espécie de casinha que fica no fundo do quintal e que serve só prá guardar tralha. é tanta coisa inútil que existem até conteineres de aluguel para o povo guardar seus excessos.

uma prática legal deles para passar para frente o que não precisam mais são os "yard sales", ou "garage sales". monta-se uma espécie de feirinha no quintal com os artigos, e vende-se para os passantes por um preço bem baratinho. aqui na vizinhança sempre tem algum, mas sempre fui muito tímida para visitar.  


...

o vídeo fala bastante dos efeitos do sistema numa sociedade como a americana, mas em países como o Brasil, por exemplo, os efeitos podem ser ainda mais devastadores. afinal, criando-se "necessidades" numa sociedade em que a maior parte mal tem o que pôr na mesa, criam-se também monstros. ou vocês são tão ingênuos a ponto de acreditar que a maioria dos crimes cometidos por delinquentes e marginais nas cidades grandes são movidos pela "fome" e pela "falta de oportunidades"? só se for a oportunidade de ter um tênis da Nike...

portanto, se você é uma daquelas pessoas que ralam o mês inteiro num escritoriozinho da Av. Rio Branco, e que deixa o seu minguado dinheirinho numa dessas lojas de grife só prá dar uma de bacana, deixa de ser BABACA e e entende que você está apenas sendo um fantoche do mesmo sistema que te tira a saúde, a oportunidade de educação e crescimento, e que depende de idiotas como você para continuar existindo.

...

eu estou ainda longe de ser um modelo de virtudes ecológicas, mas vou aqui tentando um pouquinho a cada dia. infelizmente muitos produtos biodegradáveis e orgânicos ainda pesam no bolso,  e muitas medidas ecologicamente corretas ainda não condizem com a realidade em que a gente vive (por exemplo, você se imagina usando  isso aqui no Rio-40-graus, às seis horas da tarde, voltando do trabalho, num ônibus/trem lotado??)  mas sempre têm coisas mais simples que todo mundo pode fazer, é só ter um pouquinho de boa vontade.
  • pense bem antes de comprar por impulso, ou só porque você não queria perder a liquidação, ou porque você resolveu acompanhar a amiga naquela loja de grife e não queria ficar por baixo saindo de lá de mãos vazias.
  • sempre que puder, recicle. invente formas novas de se usar aqueles velhos móveis, ou aquela roupa que você já cansou mas que ainda está em bom estado. às vezes, certos objetos podem ganhar funções novas e se transformarem em outros totalmente inusitados.
  • separe o seu lixo. orgânicos de um lado, recicláveis (latas, papéis) de outro. não dá trabalho.
  • sempre que puder, valorize e prestigie a produção artesanal. 
  • todos os dias, permaneça no chuveiro cinco minutinhos a menos. procure reaproveitar a água para outros fins. não deixe as torneiras escorrendo. e pare de lavar a calçada com água limpa da torneira.
  • deixe prá beber água engarrafada na rua, quando não há outra alternativa prá matar a sede. em casa valorize a água da torneira - devidamente filtrada, é claro.
  • apague as luzes dos cômodos da casa onde não há ninguém no momento. substitua suas lâmpadas comuns pelas fluorescentes.
  • reaproveite folhas de papéis usadas apenas de um lado fazendo, por exemplo, bloquinhos de notas ou rascunho. como eu sou desenhista e uso muito papel, geralmente aproveito o meu para estudos ou corto em quadradinhos, para usar como provas de aquarela.  o que não dá mais mesmo para usar vai para reciclagem.
  • dê mais valor ao seu direito de voto. apoie candidatos realmente comprometidos com a causa ecológica.
  • espalhe o videozinho "A história das coisas" por aí.
  • você está vivendo tempos formidáveis, onde temos total acesso à liberdade de expressão através dessa maravilha que é a internet. aproveite: crie um blog, expresse suas opiniões, espalhe suas dicas de como ajudar a tornar o planeta mais legal de se viver.  

yes, we got it!! depois de vários meses de preparativos, algumas dores de cabeça e nenhum desentendimento pessoal (coisa rara em grupos), o segundo Lexington-Bluegrass Pagan Pride Day aconteceu e foi uma delícia. dia perfeito, atmosfera agradabilíssima, pessoas fantásticas. amaria ter podido aproveitar mais, participado dos workshops, dançado no drum circle (me convidaram para tocar pandeirola), mas como tinha obrigações a cumprir - sou coordenadora de artes e tinha que estar a postos - não pude fazer tudo o que quis. mas foi um dia memorável, mesmo assim.

como sempre, graças à minha cabeça que vive saltando de um lugar para outro, falhei ao fotografar. não muitas ou significativas fotos, e as do exterior ficaram bem ruins. e apenas quando acabou eu me dei conta de que não havia me fotografado em meu booth, nem às outras artistas. que aliás, foram gratas surpresas em matéria de gentileza e amor à arte e às coisas do espírito. nossa conexão foi imediata e algumas idéias começaram a surgir...



alguns shots do exterior, com alguns booths. a última foto tem uma menina vestida de fada dark, dá prá ver? (pergunta retórica)

os shows de música com o New Morning Trio (que não parece bem um trio) e o Alien Blue, que roubou meu coração para sempre. me senti em casa de novo. e eu quero aquela mulher cantando prá eu dormir à noite.



os gatinhos em papier mache da Vida Vitagliano. ela resolveu trabalhar nas esculturas em pleno festival, aos olhos do público.




as fadas, ondinas e retratos de seres espirituais canalizados pela Tammy Wampler.



esculturas de deusas e símbolos pagãos da Mary Harmon, cheios de energia da terra.

dreamcatcher da Andrea Bryant.





e, last but not least, meu booth!

Fellowship Hall e pessoas peculiares.

eu no banheiro.





pois é, quando tirei essa foto tinha tomado várias tequilas e o cabelo estava num dia pós-lavagem - sem oleosidade natural e com aquela aparência de juba. num dia como esses, eu pareço a Sophie Marceau, pessoas! e não é possível que vocês ainda não tenham notado a semelhança com a Liv Tyler, a elfa mais gostosa da Terra Média. e aquela ao lado da Marceau não é a irmã da Paris Hilton? desconheço o restante das celebridades look-alike, mas não importa. I am definitely flattered.

não sei se é impressão minha, mas acho que existe um certo preconceito sobre ser artista (ou astróloga, ou taróloga, ou outras atividades que te permitem trabalhar no conforto do seu lar) e dona de casa. meio velado, mas tem. dá a entender que você, que passou a vida dedicando-se a um trabalho tão inferior como cuidar da casa, do marido e dos filhos, entediada pelo seu dia-a-dia enfadonho e sem-graça, de repente decidiu fazer um curso de pintura, viu que tem jeito prá coisa e resolveu se promover e ganhar uns trocados.

e por quê a coisa é diferente com os artistas homens? a maioria é casada e com filhos. no entanto, ninguém olha para eles de nariz torcido.

eu não sou uma dona-de-casa que virou artista, sou uma artista que aconteceu de casar e ter filho. minha relação com a arte começou em tenríssima idade - 3 anos, segundo minha mãe. nunca mais parei. mas eu cresci e quis casar. se posso fazer o que eu gosto sem precisar sair de casa, sorte a minha (embora a coisa não seja tão fácil. muitas vezes eu preferia ter um lugar para ir todos os dias, só prá ter uma desculpa prá não ter que cozinhar...)

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Happy Labor Day prá todo o povo americano, gente que trabalha duro e que, embora não tenha metade dos benefícios do trabalhador brasileiro, e apesar de 8 anos de governo republicano, ainda tem direito a ver seu suor convertido em dignidade.

o trabalho é um sketch para um projeto de fantasia que estava a um tempão tomando forma na minha cabeça. fazia tempo que eu não criava mundos e criaturas fantásticas e havia até me esquecido de como é divertido.

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mês que vem tem o Pagan Pride Day. prá quem não sabe, sou coordenadora de artes do evento aqui do Bluegrass. e nem estava me dando conta de que as atribuições do cargo (inúmeras, aliás. acho que sou uma das pessoas do grupo que mais trabalha) têm me distraído da minha própria exposição no festival. preciso pensar o quanto antes no que preparar.

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e ainda tem gente que me pergunta porque diabos eu demoro tanto a responder emails, scraps do orkut e porque eu nunca entro no msn. se tivessem que cuidar full time de uma pessoinha de 21 meses sozinhos, se preocupar com o que a família irá se alimentar hoje, manter o ambiente em que vivem o mínimo habitável, tocar uma carreira onde a competitividade é quase insuportável, e ainda fazer trabalho voluntário porque é importante ter ideais pelos quais lutar na vida, teriam a resposta. curta e grossa.

ficar amarrado ao departamento de imigração é um saco. felizmente estou saindo da minha condição provisória de residente: o green card definitivo me dará direito a dez anos sem dar as caras no escitório da imigração e pagar taxas exorbitantes para renovação disso ou daquilo.

às vezes penso em aplicar para naturalização, mas ainda não sei exatamente que grandes vantagens terei em substituir o passaporte verde pelo azulzinho com a águia dourada. fora que estudar história americana não está exatamente nos meus planos para os próximos anos.

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Louisville é uma graça de cidade. é considerada cidade grande mas em comparação com o Hell de Janeiro, em certos pontos, me parece uma cidade do interior super desenvolvida. aliás, essa é uma característica das grandes cidades americanas que já conheci - não muitas, aliás. não há nada de caótico, as coisas todas se harmonizam, é como se as pessoas, a arquitetura e o fluir da vida em geral vibrassem todos juntos. eu não sou fã de cidades grandes, mas acho que viveria sem neuras numa aqui da América.

para fotos tiradas dentro de um carro em movimento, até que não ficaram tão ruins assim. a ponte passa sobre o Mississipi.



sogra chegou super animada para fazermos comprinhas para a casa, amanhã. pena, mas não compartilho do mesmo grau de entusiasmo. tudo porque, depois de alguma insistência em fazer melhorias no mood geral da casa e ter minhas idéias categoricamente rejeitadas pelo marido, perdi completamente o ânimo.

eu não sei o que comprar. não fiz planos. dei uma olhadinha em alguns blogs de decoração, e tudo o que consegui foi a certeza de que não quero a casa parecendo tão perfeita e asséptica. coisas muito combinadinhas me parecem neuróticas demais. e tem também essa sensação de desprendimento que venho experimentando nas últimas semanas, que para mim é completamente nova e fascinante. quero me livrar do supérfluo, não me cercar de nada que não seja realmente útil ou que me faça viver com mais leveza.

só sei que quero tapetes, plantas, almofadas e velas grandes e coloridas.

ando com a energia muito, muito em baixa. quase duas semanas com ataques de alergia, graças a um bagulho que meu marido comprou para espantar moscas - desde que o back porch foi abaixo, não posso fritar um ovo sem que milhares delas invadam a casa. pendura-se o negócio, e ele emana uns vapores mortíferos, que are supposed to be imperceptíveis para os humanos e animais. não foi para mim, parece. não tive outra alternativa a não ser livrar a casa do objeto de terror. estava vendo a hora de cair dura no chão da cozinha, envenenada por um mata-moscas.

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mas esse trânsito de Netuno sobre o meu sol está me deixando bem desvitalizada. e olha que é um chamado trânsito "benéfico". mais ou menos eu sabia que ia me sentir desse jeito, mas não fiz muita coisa prá neutralizar o bagulho. eu não sou uma astrology freak, aquele tipo que não põe o pé prá fora da cama sem antes consultar os astros. acho mais saudável deixar as coisas seguirem o seu fluxo. só olho mesmo o céu quando começo a perceber "padrões" nas coisas, prá buscar uma explicação, ou antes de tomar alguma decisão importante prá saber se a energia do momento é favorável.

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isso aí embaixo me deixou felizona.


"Estive profundamente envolvido em certos comitês e programas de pesquisa com cientistas muito confiáveis e várias pessoas da inteligência que sabem da verdadeira história e não hesito em falar sobre isto. Nós temos sido visitados." Perguntado se as visitas são regulares, ou acidentais, ele respondeu "há alguns contatos acontecendo. Não sei dizer ao certo pois não é minha área de interesse. Mas o fato de que temos sido visitados, que o Caso Roswell é real e que um número de outros contatos foram reais e ainda acontecem é bastante conhecido por pessoas como eu que foram informadas e acompanham os casos de perto."

Extrato do excelente Saindo da Matrix.

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é claro que tem muita gente que não acredita. eu sempre achei um absurdo total que nesse universo todo só existisse um planeta habitado, e ainda por cima o nosso, de uma humanidade tão atrasada e primitiva em certos aspectos que às vezes me dá vontade de rezar prá ser abduzida. as evidências são tantas que não dá prá levantar pelo menos uma reflexão sobre o assunto. agora eu tô duvidando um pouco de que o governo americano vá realmente abrir parte de seus arquivos. jogar a verdade na cara da humanidade significaria uma mudança extra-radical que afetaria todo o status quo. e tá bom que as grandes coorporações vão querer abrir mão de perder o domínio sobre as mentes... sem contar que a maioria das pessoas ainda prefere descansar no seu sono milenar e acreditar que estão muito bem, obrigada, e que não precisam mexer o traseiro para ver as coisas mudarem.

eu sinceramente acho muito melhor que a verdade sobre os UFOS e extra-terrestres venha à tona, que sistemas caiam, que gente se suicide por reconhecer que aquilo em que acreditaram a vida inteira era falso, do que ver a humanidade sendo devastada por catástrofes coletivas - que tem sido infelizmente o meio mais eficiente de fazer as pessoas se sentirem "incomodadas"...

já a várias semanas venho pensando em deletar o blog. afinal, não consigo mesmo me organizar para vir aqui escrever o que quer que seja. são muitas as coisinhas do dia-a-dia, sempre muito corrido, curto, chorado. mas vez ou outra me pego elaborando textos na cabeça ou pensando em coisas que gostaria de dizer. daí que não dá prá deletar blog nenhum, pois mesmo no meio do caos é preciso dar uma escapulida, ainda que rara. então, usei a estratégia de mudar o visual para incentivar a frequência. taí, girassóis. outra das coisas que me fazem sorrir largo e brilhar os olhos.

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agora tem conexão wi-fi aqui em casa. dá prá carregar o laptop prá tudo que é canto e navegar enquanto se lava a louça, faz o almoço ou olha a pequena brincar no quintal. não tem coisa melhor, e temos nos perguntado todos os dias como conseguimos viver sem isso todo esse tempo.

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e graças a tal conexão, agora mais rápida, descobrimos finalmente qual a graça toda do Youtube. porque antigamente era preciso esperar carregar o vídeo por uns minutos, e só então assistir. um saco total, peguei até uma certa bronca do Youtube. agora me delicio descobrindo quanta coisa legal tem ali prá se ver, e não são só vídeos de música, não. descobri um milhão de videos de astrologia e tarot, palestras espíritas, e, glória das glórias, TODOS os episódios de Candy Candy, meu desenho preferido no início da minha adolescência e, sem exagero nenhum, melhor lembrança da dita cuja. é em espanhol, mas dá prá entender. delícia.

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mas o melhor de tudo mesmo foi ter finalmente visto o trailer de Watchmen, que ando esperando há séculos. fiquei emocionada. Watchmen é uma das melhores coisas que já li na vida, sou fã incondicional. e fico feliz em ver que, ao que parece, a história está sendo tratada com o respeito que merece. aqui estréia em março. mal posso esperar.

aqui chove, e eu sem muito prá falar. pelo menos verbalmente, porque a cabeça e o coração, estão, como sempre, transbordando. cenas e cores e idéias. tantas idéias que não cabem numa única encarnação.

sei que ando trabalhando bastante, às vezes até tarde, o que me deixa um verdadeiro bagaço no dia seguinte. eu preciso dormir bem prá ser feliz e produtiva no dia seguinte. e principalmente para segurar a onda de ter uma toddler hiperativa em casa. porque a pequena, senhores, é um mini terremoto de 9 graus na escala Richter. engraçado ter saído tão diferente dos pais. eu e meu marido somos bem calminhos (pelo menos por fora) e introspectivos. há dias em que sinto a necessidade absoluta de uma babá, mas enquanto não tenho deadlines com um bom dinheirinho envolvido, não acho que vá valer a pena procurar uma.

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não contei que o espírito da Britney Spears baixou em mim há duas semanas atrás e resolvi passar a tesoura no cabelo myself. nem precisa dizer que foi uma catástrofe. sorte que a moça do salão conseguiu fazer um milagre e restituir a integridade da minha pobre cabeleira. ficou um defeitinho do lado esquerdo, atrás da orelha, mas nada sério. esses impulsos precisam ser contidos.

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também tive que trocar os óculos. mas ainda não tenho certeza se a mudança de grau foi a ideal, ou se estou com problemas com certos tipos de luminosidade, pois às vezes, quando desenho, tenho a impressão de estar vendo tudo meio fora de foco. ainda não sei. sempre que preciso trocar os óculos, é o mesmo drama há anos. os médicos nunca acertam comigo de cara, e lá vou eu refazer os óculos novinhos. um saco. e eu sinceramente acho que, aos 37 anos, preciso mesmo é de bifocais.

os óculos novos.

ao que tudo indica, o mais novo grande desafio da minha vida é fazer minha filha largar a mamadeira.

com quase 1 ano e meio de idade, ela ainda é apegadíssima às ditas cujas como qualquer bebezinho. mamadeira acalma, pára as crises de pirraça, faz dormir. muito conveniente para as mães exaustas, como eu. confesso que estava esperando a natureza agir e, com o fim da fase oral, ela simplesmente cansar das garrafinhas. mas o médico recomendou acabar com o hábito já - mamadeira faz muito mal aos dentes, e quanto mais tempo se persiste no hábito, mais difícil é abandoná-lo. tudo indica que esse será o primeiro grande trauma da vida dela. e eu, como toda mãe, embora saiba que lidar com frustrações desde cedo é importantíssimo, gostaria de tornar essa transição a mais suave possível . minha estratégia é ir tirando, gradualmente, cada uma das mamadeiras do dia, começando pelas emocionalmente menos importantes até as mais dramáticas (como a de antes de dormir...). alguma dica?

recebi hoje por email, de pessoa sábia e super cute. eu adoro o Gibran, e concordo com cada vírgula desse texto. compartilho, pois.

DO TRABALHO

Depois, um operário pediu-lhe: Fala-nos do trabalho.
E ele respondeu:
Vós trabalhais para acompanhar o ritmo da terra e da alma da terra.
Pois estar ocioso é tornar-se estranho às estações e sair da procissão da vida que caminha com majestade e orgulhosa submissão, rumo ao infinito.

Quando trabalhais, sois como uma flauta, e no coração dessa flauta o murmúrio das horas transforma-se em música.
Quem de entre vós quereria ser uma cana muda e silenciosa, quando tudo ao redor canta em uníssono?
Sempre vos foi dito que o trabalho é uma maldição e o labor um infortúnio.
Mas eu vos digo que, ao trabalhar, acumulais um fragmento do sonho último da terra que vos foi atribuído quando esse sonho nasceu,
e é quando vos ligais ao trabalho que verdadeiramente amais a vida.
Amar a vida pelo trabalho é ter intimidade com o segredo mais íntimo da vida.

Mas se, na vossa dor, chamais aflição ao nascimento e à manutenção da carne uma maldição gravada sobre a vossa fronte, então respondo-vos que só o suor da vossa testa apagará o que aí estiver escrito.

Também vos foi dito que a vida são trevas e na vossa fadiga vos fazeis eco de tudo o que os cansados vos disseram.
E eu digo que sem movimento a vida é, com efeito, trevas
e que todo o movimento é cego sem o saber,
e que sem trabalho todo o saber é vão,
e que sem amor todo o trabalho é vazio,
e que, quando trabalhais com amor, vos ligais a vós mesmos, uns aos outros e a Deus.

E que significa trabalhar com amor?
É tecer o pano com fios arrancados do vosso coração, como se o vosso bem-amado se fosse enfeitar.
É construir uma casa com carinho, como se o vosso
bem-amado nela fosse habitar.
É semear com ternura os grãos e recolher a colheita com alegria, como se o vosso bem-amado lhe comesse o fruto.
É deixar em tudo quanto fazeis um sopro da vossa própria alma,
e saber que todos os mortos bem-aventurados estão à vossa volta a contemplar-vos.

Muitas vezes ouvi-vos dizer como que num sono: «O que trabalha o mármore e encontra na pedra forma da sua alma, é mais nobre que aquele que trabalha a terra.
« E o que pega no arco-íris e o estende na tela à imagem do homem é superior àquele que faz as sandálias para os nossos pés.»
Ora, em verdade vos digo, não a dormir, mas em plena vigília do meio-dia, que o vento não fala cor mais ternura aos carvalhos gigantes do que ao mais humilde rebento de erva;
e só é grande aquele que converte o rugir do vento num cântico que o seu próprio amor tornou mal suave.

O trabalho é o amor tornado visível.
E se não podeis trabalhar com amor, mas com tédio, melhor seria renunciar ao vosso trabalho, sentar-vos à porta do templo e solicitar a esmola daqueles que trabalham com alegria.
Pois se, com indiferença, fazeis o pão, o vosso pão será amargo e saciará apenas metade da fome do homem.
E se, a contragosto, esmagardes as uvas, a vossa aversão destilará veneno sobre o vinho.
E se cantais como cantam os anjos, mas sem amar o cântico, ensurdecereis os ouvidos dos homens às vozes do dia e às vozes da noite.

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os americanos não comemoram o dia do trabalho no primeiro de maio, como todo mundo. aqui é em setembro - chamado Labor Day. anti-comunista? que nada...

resolvi que vou fazer os headers representando coisas que eu gosto, que me fazem feliz. taí o primeiro da série: Cocteau Twins. uma das minhas bandas amadas e eternas.

e o template tá brabo de mudar. tô querendo sumir com aquele traço no meio da imagem e ainda não achei o código responsável pela façanha.

volto já.

os brasileiros têm muitos mitos em relação aos Estados Unidos e ao povo daqui que me irritam. talvez um dos piores seja o de achar que todo mundo que vêm para cá como imigrante se dá bem, fica rico, etc. eu moro aqui há quase 3 anos e, apesar de trabalhar um bocado para ter meu trabalho reconhecido, continuo tão dependente do meu marido como no dia que cheguei aqui. no entanto, um bocado de gente pensa que estou muito bem de vida, obrigado, e que os países de primeiro mundo são o paraíso na Terra.

prá começar, a América não passa de um ídolo de pés de barro. já teve seu período áureo, mas agora é só um império que vai decaindo a olhos vistos, entre produtos made in China, corporações famintas por dinheiro e o retorno da Santa Inquisição travestida de igrejas evangélicas. oportunidades ainda há - principalmente para quem não se importa em limpar chão ou ficar atrás de um balcão do Margh Donald´s. mas se seu negócio é trabalhar fazendo algo que honre seus muitos anos sentado em bancos escolares e universitários, é melhor você ser muito bom e se preparar para trabalhar dobrado, quem sabe até estudar mais para se enquadrar às exigências americanas. porque a realidade do trabalho na América, senhores, é duríssima. justamente por causa das oportunidades, as pessoas acreditam e vão atrás do que querem, fazendo a concorrência ficar ainda mais acirrada. aqui não tem "jeitinho" nem padrinho (esse deve até ter, mas não de forma escancarada e cafajeste como no Brasil.) mesmo com sorte e ajuda, tem que ter talento e trabalhar duro. esqueçam os fins de semana e férias remuneradas, o FGTS, o décimo terceiro, e dêem graças a Deus pelas misericordiosas leis trabalhistas do patropi, porque aqui se não trabalhar, não come.

minha área - ilustração e artes visuais - é bacana por ser muito ampla e variada. aqui as pessoas gostam e compram arte (nem que seja prá decorar a sala), além de, em geral, respeitarem e valorizarem o artista. o mercado de publicações - livros e revistas - é um mundo. o que não faltam são nichos onde se enquadrar, dos mais conservadores aos mais insólitos. o que não quer dizer que tem lugar prá todo mundo. tem muita gente insuportavelmente boa disputando mercado, seja ele qual for. o que significa que você, além de ter que estar entre os melhores, tem que ser onipresente. não adianta só colocar um site na internet e esperar os pedidos, não funciona desse jeito. tem que fuçar tudo quanto é canto e colocar a cara. se for um artista comercial, precisa estar atento ao que seu público em potencial quem ver - o que muitas vezes custa o sacrifício de sua satisfação artística, inspiração e originalidade no altar no lugar-comum. não é fácil.

a quem tem seu emprego estável no Brasil, trabalha com o que gosta, ou com o que estudou anos para fazer, e ainda pensa em vir para cá (alguém ainda pensa? dizem que o Canadá agora é a nova meca da imigração, né?), eu sugiro pensar duas vezes. a vida aqui não é tão fácil quanto se imagina, não existe sistema público de saúde, o mamão papaya (verde e feio) custa 5 bucks no supermercado e até você conseguir pagar o aluguel sem precisar dividir com mais 10 pessoas vão-se longos meses de lavação de pratos e levantamento de bandejas. e esqueça essa história de ficar rico na América, isso já passou para a mitologia do país. se mesmo assim você acha que vale a pena tentar, boa sorte. principalmente se achar que ainda existem coisas mais importantes na vida (como viver com uma certa dignidade, por exemplo) do que a praia e o feijão.

eu PRECISO dar um jeito de arrumar esse negócio aqui. esse layout tá um lixo e tá tudo fora de ordem.

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sabe quando você se sente como se tivesse saído de uma gaiola depois de anos de prisão? ou quando de repente você vê o sol brilhando e um arco-íris lindo depois de horas de uma tempestade cinza-escuro? é como tenho me sentido esses dias.

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não que a vida tenha sido particularmente ruim, é só um estado de alma. tenho certeza de que isso tem muito a ver com estar retornando a um ritmo bom de trabalho. mais do que nunca tenho a certeza de que eu preciso estar criando, derramando-me em cores e formas numa folha papel. vou ajustando aqui e ali, entre o fogão, a louça suja, a fralda por trocar, o chão que pode esperar mais um dias para ser limpo, os emails e scraps do Orkut que podem esperar mais - umas duas semanas?- para serem respondidos.

esperei durante um bom tempo para que isso pudesse acontecer, porque quando você tem um filho parte da sua vida não te pertence mais; você precisa aprender a ser extra-paciente, extra-tolerante, e adaptar todo o seu cotidiano à presença de uma pessoinha que vai depender de você quiçá até os anos da sua juventude se tornarem passado (o que é o meu caso, já que tive minha primeira filha já quase no ápice da maturidade.) às vezes a urgência por criar não pode ser atendida, pois há uma refeição por preparar, ou mãozinhas ávidas por atenção agarrando as suas pernas. mas como crescer em amor nunca é perda de tempo, a gente respira fundo, abre um sorriso e apenas abraça o que a vida nos deu.


recebi hoje pela manhã o triste artigo, publicado originalmente no blog Pátria Futebol Clube, a respeito da demolição do terreiro de candomblé Oyá Onipó Neto, um dos mais antigos de Salvador. o texto me trouxe lágrimas aos olhos, de tristeza e revolta. mais um infeliz (e seríssimo) episódio de intolerância religiosa, esse cancro que, em pleno século 21, vem crescendo a olhos vistos, e só mostra o quanto ainda estamos "medievalizados" e longe das palavras do Cristo. sim, senhores, infelizmente o Mestre ainda é um ilustre desconhecido, mesmo - e aparentemente, principalmente - para aqueles que se dizem servi-lo.

não sou candomblecista. tenho um respeito infinito por essa religião antiquíssima, que foi inclusive objeto de um de meus trabalhos de faculdade. o candomblé nao é apenas religião, é história, memória, tradição, raiz. o candomblé é parte do que somos como povo brasileiro, merecia ser tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional (aliás, foi isso o que fiz, fantasiosamente, no tal trabalho.)

assim como respeito o candomblé, também respeito as religiões evangélicas. minha mãe é evangélica, e tenho amigos evangélicos maravilhosos. entendo a razão pelo qual eles se propõem a "salvar" aqueles que, eles acreditam, estarão condenados a uma eternidade de sofrimento no inferno. eu os ouço respeitosamente, absorvo as coisas boas, e rejeito aquelas que não condizem com a minha razão. não coloco meus argumentos na mesa, a não ser quando solicitada - ou quando a insistência é tanta que começa a me dar nos nervos. terminada a prosa, cada um vai para o seu lado, a parte deles está feita, e o que vier depois é uma decisão unicamente minha. se eu optar pela "condenação", isso é um problema meu. qualquer coisa que fizerem além de me alertar sobre os perigos do inferno, já está fora de qualquer esfera do respeito humano, é violência e invasão de privacidade.

quando escolhi não pertencer a nenhuma religião institucionalizada, não apenas o fiz
porque a razão e o espírito inquiridor me levaram a outros caminhos, mas principalmente por não admitir seguir regras criadas por seres humanos em surtos de soberba máxima, como essa coisa de querer ser porta-vozes de Deus na Terra. outra: eu conheço a Bíblia. tenho interesse por religião desde criancinha. não a conheço de cabo a rabo, o que seria meio louco, mas o suficiente para reconhecer certas verdades que, infelizmente, e por interesses excusos, são ignoradas por muitos. quero que alguém me aponte onde, em todo o evangelho, Jesus manda seguir esta ou aquela religião como sendo a ideal ou a "certa." no entanto, são essas as pérolas que encontramos:

Mateus, 8:10-12: "E maravilhou-se Jesus, ouvindo isso, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. Mas eu vos digo que muitos virão do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abrãao, e Isaque, e Jacó, no Reino dos Céus; e os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes." (ao ter sido recebido na casa de um centurião romano, um pagão.)

Mateus, 7:21: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus."

João, 14:1-3: "Não se turbe o vosso coração; c
rede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar."

e, de quebra, um conselho:

Lucas, 6:36-38: "Sede pois, misericordiosos, como também vosso pai é misericordioso. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão; dai, e ser-vos-a dado; (...) porque com a mesma medida com que medirdes sereis medidos."

como a pessoa que enviou o email ressaltou, hoje eles destroem centros, amanhã, covens, depois, lojas. e o "filhinhos, amai-vos" (João,
13:34), onde fica?

houve um tempo em que eu muito escrevia nessas paragens virtuais, desde 2002, acho, quando comecei meu primeiro blog. acabo de ler uns posts meus antigos e senti inveja de mim mesma.

não sei bem quando, nem porquê, fiquei tão calada, tão sem entusiasmo para falar de mim mesma e do mundo ao redor. tá certo que a falta de tempo ajuda, mas às vezes escrever vale tão a pena, não só como desopilação mas como uma forma de guardar as memórias. tanta coisa que me arrependo de não ter escrito, guardado em palavras... não sei se desaprendi a ser transparente; talvez esse passeio de Saturno na minha casa 1, além de ter me trazido umas marcas do tempo indesejadas na cara, também tenha me feito me esconder mais do que gostaria. às vezes até de mim mesma.


sempre tive pavor de tempestades. gosto muito de chuva, muito mesmo, mas trovoadas, relâmpagos e ventania me dão vontade de me enfiar no buraco mais próximo e ficar lá bem quietinha até tudo passar.

ontem sabíamos que chegaria uma bruta tempestade à noite, mas eu não esperava ser acordada pelo alarme de tornado da comunidade à uma da manhã. pulei da cama com o coração na boca, e olhei pela janela. as árvores de caule mais frágil estavam envergadas num ângulo de quase 45 graus. haviam coisas voando, e o céu tinha uma coloração de filme de terror. de repente, apagaram-se as luzes lá de fora. entre pensamentos de "e agora?" e "eu quero voltar pro Brasil", já me preparava para agarrar minha filha (que não fora acordada pelo zunido ensurdecedor do alarme) e carregar para o lugar mais seguro da casa - o banheiro, segundo meu marido. fui para sala e liguei a tv. havia uma faixa vermelha no canal do tempo dizendo "procure abrigo agora!", mas também um aviso de tornado que não era, para nós felizmente, para essa região. a tempestade estava se deslocando para o norte, e em dentro de quinze minutos pude ir para a cama mais tranquila e pegar no sono.

hoje pela manhã, lá fora, haviam árvores partidas, pedaços do telhado e galhos por todos os cantos, e as vidraças do back porch - espécie de varanda com paredes e vidraças que as casas daqui possuem na parte dos fundos - haviam se estilhaçado e estavam espalhadas pelo chão.

foi só um susto, e bem dado - e no, thanks, eu não quero saber como é a coisa de verdade.

e então, tivemos um reveillon tranquilo, e isso basta. um super jantar de sushi, e cervejinhas em casa depois. e 2008 começou com neve na janela. perfect.

não sou de resoluções de ano novo, acho que mudanças podem, e devem, acontecer toda hora, o tempo todo. mas esse ano, por uma força obscura, resolvi tentar. a primeira é a famigerada dieta, já que é imperioso que eu perca os diversos pounds ganhos desde o Thanksgiving. o segundo é desenvolver estratégias para ser mais organizada, e fazer primeiro as coisas primeiras. o terceiro é começar a ganhar dinheiro de verdade, e como o ano começou com pedidos na minha caixa de email, tem que ser um bom sinal. o quarto é começar a pôr em prática uns projetos profissionais, um dos quais de caráter filantrópico.

dizem nos meios astrológicos que 2008 é um ano de Marte. não compactuo com essa coisa de dar regência de planetas aos anos, mas mesmo assim, meus votos é de que possamos desenvolver nossas melhores qualidades marcianas - vontade, energia, capacidade de lutar pelo que acreditamos - pela consciência de que, como disse Gandhi, é preciso que sejamos a mudança que queremos ver no mundo.

e que 2008 seja um tempo de bençãos para todos nós.

"É melhor ser violento, se existir violência em nossos corações, do que colocar a capa de não-violência para cobrir impotência." Mahatma Gandhi

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