terráqueos

esta manhã, pesquisando sobre vegetarianismo, cheguei ao vídeo "Earthlings" ("Terráqueos", em português) no Youtube. não é exatamente um vídeo pró-vegetarianismo, mas um documentário ao mesmo tempo sensível e cruelmente realista sobre as várias formas de subjugação dos animais pelos seres humanos. mostra, sem reservas e sem comentários tendenciosos a favor deste ou daquele movimento, a via dolorosa dos animais para nos alimentar, entreter, vestir, auxiliar nos "avanços científicos", ou seja, todas aquelas coisas que a gente está careca de saber mas finge que não sabe porque ainda é egoísta demais para abrir mão de certos luxos e prazeres.

não consegui ver o vídeo inteiro e pulei várias partes. o que vi quase fizeram as minhas glândulas lacrimais derreterem. fiquei mal-humorada e triste o resto do dia.

depois do supermercado, como de costume, fomos almoçar num dos restaurantes mexicanos da cidade. a visão dos pratos com carne nas fotos do cardápio só me faziam pensar no maldito vídeo. acabei pedindo um prato com peixe, e não com frango, como sempre faço. claro que isso não suaviza nada, é uma morte por outra. tanto o peixe como o frango sofrem da mesma forma, mas eu estava tentando me iludir um pouquinho.

sempre pensei muito em me tornar vegetariana. na verdade, até tentei, uma vez. não durou muito. adoeci - embora não pela falta de carne, acredito eu - e minha mãe me fez comer um peixinho prá restaurar as energias. desde então, a carne voltou com tudo e ficou só o projeto para quem sabe um dia. nunca mais tentei. e porque essa vontade tem se manifestado com força novamente é que eu tenho feito essas pesquisas a respeito do modo de vida vegetariano, cardápios e tudo o mais. eu não tenho o menos problema com comida natural, curto tofu, carne de soja, hamburguer de feijão, todas essas coisas que fazem a maioria das pessoas torcer o nariz. e não acho absolutamente que você está abrindo mão dos prazeres da vida só por não comer carne. prazer é um conceito por demais relativo.

na verdade, eu já liquidei parte do processo há muito: não como carne vermelha desde os idos dos meus 21, 22 anos, creio. minha decisão foi baseda em questões de saúde e espirituais. para quem chegava a comer carne crua, foi difícil, muito difícil, e escorreguei inúmeras vezes. a pior tentação era o churrasco, cheirinho de carne queimando na brasa era duro de resistir. eventualmente chegava a degustar uma linguicinha, uma fatia de presunto. até que parei com tudo de vez. não sei dizer como eu estaria agora se ainda comesse carne, se estaria diferente, mais doente, ou aparentando mais idade. não sei se minha gravidez teria sido mais problemática - nunca tive a menor alteração na pressão ou inchaço, problemas muito comuns, mesmo tendo engravidado já com 35 anos. sei que me sinto bem sem a carne e nunca tive nenhum dos problemas atribuídos a falta dela, como anemia, por exemplo.

como já disse, minhas razões para riscar as carnes do meu cardápio não passam só pela questão da saúde, mas também pelas questões espirituais. há várias coisas que nós não vemos mas que são parte da realidade, coisas que interagem com nossa vida material e a afetam muito mais do que imaginamos. no entanto, o meu principal motivo é mesmo a compaixão pelos animais. sempre me incomodou o fato de gostar de bichos e comer alguns deles. me sinto hipócrita, conivente com uma indústria que talvez seja a mais cruel e covarde da face da terra. e usando o velho pretexto de que o homem está no topo da cadeia alimentar, que é coisa da natureza, etc, vou fritando o meu filezinho de frango e comendo o meu sashimi tentando não sentir culpa.

mas está ficando muito claro para mim, agora, que está sim, na hora em que nós, humanos, comecemos a parar de nos ver no topo da cadeia alimentar e enxergamos os animais como irmãos menores que precisam de nosso auxílio para evoluir. pelo menos em nossa sociedade foi-se o tempo em que os meios de sobrevivência eram escassos e não tínhamos muita opções. hoje em dia temos supermercados abarrotados de coisas e alimentos frescos em qualquer época do ano à altura do braço.

bom, acho que o vídeo me deu o empurrãozinho que faltava, apesar de ter despedaçado o meu coração. não sei o que vai ser daqui prá frente, mas estou praticamente resolvida a abandonar a carne de vez. sei que vai ser um caminho difícil - mas afinal, se consegui me livrar completamente do hábito das carnes vermelhas, há esperança também para as brancas. e se você como eu também precisa de uma ajuda extra para seguir de vez a rota do vegetarianismo, tá aqui a primeira parte do vídeo. mas aviso de antemão, não é para corações fracos.


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