a um tempo atrás eu costumava ser muito radical a respeito desse assunto. a questão do aborto, ou qualquer outra que diga respeito à crianças e seus direitos sempre me tocaram muito profundamente. costumava criticar ferozmente qualquer postura pro-aborto. hoje, mesmo continuando radicalmente contra, prefiro analisar a coisa sob outros ângulos. prefiro a solidariedade antes de apontar o dedo acusador para alguém que viveu uma experiência da qual eu não tenho a menor idéia.

eu não gostaria de estar na pele da mulher que engravida sem condições de levar a gestação adiante por motivos justos. posso imaginar o desespero de quem não sabe se amanhã haverá comida na mesa para si próprio constatando que vem chegando outra boquinha para alimentar. também não quero estar na pele da mulher que, apesar do coração gritar não, foi forçada pelas circunstâncias, sejam elas quais forem, a arrancar o filhinho do ventre, e que fica com aquela marca a vida inteira, doendo fundo. tenho profundo respeito e solidariedade a essas mulheres e às suas dores que nós não sabemos.

acredito que a postura frente ao aborto depende muito do ponto de vista de cada um em relação à vida, de filosofias e de crenças. uma pessoa cuja visão de vida seja essencialmente materialista vai ser totalmente a favor. que não há o menor problema em se extirpar o que se considera ser apenas uma massa de células sem sensibilidade. como eu não entendo um embrião como uma massa de células sem sensibilidade, mas como o germen do que em pouco tempo será um ser humano, e com um espírito já ligado a ele desde a concepção, aborto para mim, é matar, é negar à outra pessoa o direto à vida. eu aprendi que é preciso amar o meu próximo. e por amar eu entendo, entre outras coisas, não matar.

mas, como eu disse, tudo é uma questão de filosofia de vida. não saberemos quem está certo a não ser que a ciência avance até provar que o embrião é só um embrião, ou é algo mais complexo. enquanto isso, mesmo tendo cá as minhas certezas, fico com o "não matarás".

sobre a legalização do aborto, não tenho uma opinião formada, já que acredito que cada pessoa tem o direito de fazer o que quiser de sua vida. é para isso que existe o livre-arbítrio, e não vou entrar aqui no mérito de seu bom ou mal uso. no entanto, cada vez mais acredito ser uma tremenda barca furada. pode ter até o seu lado bom, que é o de encerrar muita atividade criminosa, fechando clínicas clandestinas e prendendo um bocado de gente "boa", mas também existe o perigo de ser transformado em método contraceptivo e eximir de vez o estado e a família de suas responsabilidades. me dá medo, parece método eugênico, coisa de nazista, sabe. vai trazer problemas? vai lá e mata. simples assim. afinal, é o Brasil. então tá. aborto vira a única alternativa para a mulher pobre e ignorante que engravida sem querer. violência para remediar outra violência, que é a do Estado contra seus cidadãos. uma vergonha.

quisera que a energia e a grana investida nas campanhas pró-aborto fossem utilizadas para um outro tipo de campanha, a do respeito à mulher que engravida sem querer e ao seu filhinho, reinvindicando-lhes auxílio material e psicológico. à conscientização de que o corpo e as funções reprodutivas precisam ser respeitados e assegurados.

e sobre o discursinho esfarrapado e pseudo-liberal do "a mulher tem o direito sobre seu próprio corpo", acho que é egoísta e fútil. sem contar que vem arrastando uma massa de menininhas ainda inexperientes, cabecinhas cheias de "cultura de internet", que passam a acreditar que são muito "in", espertas e liberadas por defender a idéia de que ser mulher de verdade é ter direito ao sexo livre, totalmente isentas de responsabilidade. e de amor. coisa perigosa, essa.

gravidez é coisa muito séria, e não pode ser vista como algo que se pode ficar livre num abrir e piscar de olhos, como se fosse uma roupa que se pode devolver prá loja depois de comprada. não, meu coração não consegue ser solidário com quem acha que fazer aborto por conveniência é legal e aceitável, sorry.

...

hoje, dia das crianças no Brasil, a primeira coisa que fiz assim que minha filha abriu os olhos, pela manhã, foi enchè-la de beijos e agradecê-la por ter entrado na minha vida. mesmo tendo chegado sem planejamento, num momento difícil, de recomeço e reconstrução, eu digo que valeu a pena. ela foi a inspiração que eu precisava para mudar minha vida, para correr atrás do que eu realmente quero, para ser uma pessoa melhor e diferente. e essa inspiração, força e amor que desejo à todas as mulheres que se encontram na difícil situação de terem engravidado na hora "errada"... acreditem, não existe a hora errada. não existem dificuldades onde sobra amor.

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial