a primeira vez que votei na vida foi na primeira eleição direta prá presidente do Brasil. eu devia ter uns 18 anos. lembro-me que anulei meu voto com um um redondo "A" de anarquia, aquele famoso. não sabia bem o que era anarquia, nem tampouco tinha muita idéia de que estava abrindo mão de um direito conquistado a duras penas. fui votar porque assim ordenava o Estado. era a democracia, diziam.

o tempo passou, outras eleições vieram, e o que antes não passava de uma grande maçada passou aos poucos a ser tarefa séria, pensada, debatida e, porque não dizer, tinha até seus momentos de diversão. o horário eleitoral gratuito passou a ser um must das minhas noites, não só para análise dos candidatos, como também para entretenimento - vá lá, poucas coisas são tão bizarras e engraçadas na tv hoje em dia. o ritual de ir às urnas era cumprido com respeito, apesar dos muitos minutos a pé sob o sol escaldante da primavera da Baixada Fluminense. com tanto respeito que me sentia realmente ofendida quando a multidão que se aglomerava nas ruas me cercava para oferecer "santinhos". "a senhora já tem candidato?" - a pergunta me fazia ferver o sangue, reduzia-me à massa dos que votavam por obrigação, que muitas vezes escolhe candidato à boca da urna prá se livrar do "dever democrático" e ir tomar suas skols depois. apesar de ter encarado tudo como tarefa séria, pensada, debatida, a sensação pós-votação era sempre de anti-clímax. era como ter participado de uma farsa. não tinha graça nenhuma.

este foi o primeiro ano em que não votei prá presidente do Brasil. tenho acompanhado, do jeito que dá, a movimentação eleitoral pela tela do computador, através dos jornais onlines e blogs. sei mais ou menos em que pé as coisas estão, sei do desalento de um grupo que mais uma vez vê a massa faminta e ignorante decidir por todos. e também de um outro grupo que acha que o PT no poder trouxe à tona preconceitos da época da colônia que rezam que operários não podem governar.

eu acho que cargos políticos são tão sérios que não deveriam ser dados a quem não tem no mínimo um curso superior. do mesmo jeito que prá ser médico, advogado ou professor é preciso estudo - afinal, todos lidam com gente, e gente é coisa séria. não pelo título, mas pela vivência que os bancos universitários proporcionam, pela abertura de racocínio a qual eles te impelem. elistista? não acho. a menos que você considere que universidade é só prá ricos. uma das minhas broncas com o Lula não é o fato de ele ter sido um operário, pois eu também nunca fui rica e nem ao menos classe média. é o fato de ele ter tido tantas oportunidades de enriquecer-se como ser humano através do estudo e não tê-lo feito. belo exemplo prá população que o elegeu.

no mais, continua tudo na mesma. claro que tivemos umas mudancinhas, mas elas vieram a passo de tartaruga. as cabeças pensantes ainda são uma minoria, quem elege nossos representantes é, sim, o povo que não pode compreender que há muito mais além de uma refeição a um real ou de uma bolsa-família, porque os estômagos continuam roncando e os filhos continuam chorando de fome apesar de tantas décadas de promessas. é preciso que seja assim, para manter as mesmas elites no poder. e quem não é elite quer ser, quem nunca comeu melado quando come se lambuza, e taí o PT que não nega a sabedoria popular. outros elegem Clodovis e, apesar do passado, Malufs e Collors. eu reafirmo cada vez mais a minha teoria de que os governos são reflexos de quem os elege, logo, se quisermos mudanças de verdade, precisamos começar a mudar a nós mesmos. esse é a nossa grande tarefa para o momento. ou será que você, que reclama do governo, passaria incólume a uma oferta de 30 milhões para votar a favor dele?

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