tudo bem, eu confesso: não fui muito feliz quando escrevi, ali embaixo, que cargos políticos deveriam exigir curso superior. afinal, quantos diplomados a gente não vê por aí que são completamente ignorantes nas coisas do coração?

liguem não, isso é mal de professora. às vezes não sei se estou errada ou certa em achar que educação é fundamental, um direito de todo mundo, e quanto mais, melhor. de tanto que leio o pessoal falando por aí que é elitista achar que todo mundo deveria ser educado e esclarecido, acabei me achando meio metida a besta.

mas continuo não gostando de paternalismo. coisas do tipo "coitadinho, não estudou porque é pobre" ou "ele rouba porque a sociedade não lhe deu condições". eu acredito que não existem privilegiados, existem aqueles que suam mais, que sonham mais, que trabalham mais. que tudo vale a pena se a alma não é pequena.

e, apesar dos pesares, confesso que senti um alívio com a vitória do Lula. afinal, nunca pensei que fosse viver prá ver a dívida do Brasil com o FMI paga.



quase aplaudi de pé ao assistir isso pela primeira vez. e a Dove continua de parabéns.

no domingo passado comemorou-se o dia dos professores. que era respeitosamente chamado de "Dia do Mestre", na minha época. diziam que a professora era como uma segunda mãe, e lhe devíamos respeito. eu costumava respeitar profundamente todos os meus professores, admirava-os, invejava-os sempre que os via reunidos, na hora do intervalo, na tal "sala dos professores", como deuses de algum olimpo. anos depois, em meu primeiro dia como professora de verdade, senti um orgulho imenso de estar numa daquelas (mesmo descobrindo quase que imediatamente que de olimpo a sala não tinha nada).

neste último dia dos professores, encontrei uma reportagem no Dia online (não consegui encontrá-la novamente para por o link aqui, sorry) que me deixou estarrecida. dizia mais ou menos que, no mês passado, cerca de 10 mil professores da rede pública do Rio de Janeiro pediram licença de seus empregos. mais de 50% alegou precisar de tratamento contra ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

os professores sentem-se acuados e desprotegidos quando saem para lecionar. a violência já atingiu as salas de aulas. alunos agridem os professores, fazem ameaças. eles não tem mais como exercer sua autoridade sobre a classe, o que os impede de realizar seu trabalho. ao invés de "mestres", são vistos como um nada. estão a mercê do medo de que algum aluno os surpreenda num dia qualquer, na hora da saída, com um fuzil em punho. ou de que uma aluna insatisfeita com o fato de precisar calar durante a aula (como realmente aconteceu) os atire um livro nas costas e os puxe os cabelos como um bicho.

quando tomei a decisão de me tornar professora, o fiz por um profundo amor e desejo de compartilhar conhecimento, de colaborar de forma efetiva para o mundo bom que eu acredito. eu não acredito em trabalho sem o ideal em prol de algo maior que nós mesmos. e que profissional tem maior chance de realizar isso do que o educador? no pouco tempo em que consegui atuar no sistema educacional formal, em escola particular, compreendi que era preciso muito mais que idealismo. estamos todos cercados por uma ideologia estúpida de consumismo e ilusionismo, onde o mercantilismo dita as regras, e se você não dança conforme a música acaba perdendo seu espaço, e perder espaço num país como o Brasil é luxo que poucos podem se dar. nem como professor você está livre do tal sistema. os tempos de "mestre" se foram. você aprende rápido que os alunos, ou aqueles que pagam o seu salário, "mandam". deparei com turmas completamente despreparadas as quais eu não podia avaliar segundo os meus critérios, porque a política da escola, que queria ser "moderna", era de jamais baixar a média de um aluno. era com os dentes trincados que eu lançava setes (média mínima) no quadro de notas após nomes de alunos que sequer traziam um lápis para a sala de aula. o que se ensina a alguém com critérios tão frouxos, pergunte a eles. prá mim, isso apenas reforça o conceito da lei do menor esforço, uma das coisas que mais atravanca o progresso social no Brasil... eu me sentia uma traidora do que eu acreditava. digam-me se isso também não é uma violência. é de uma frustração descomunal ver que o sistema contra o qual você luta está representado justamente por um dos pilares da sociedade - a escola.

mesmo atrasado, meu Feliz Dia do Mestre para todos aqueles que têm remado contra a maré, com a coragem suficiente de quebrar barreiras e transformar.

o site Absoluta publicou um texto meu sobre gravidez. só seguir por conteúdo > cura > nossos amores > nossas crias. breve devo estar lá também falando um pouco sobre meu trabalho artístico.

o site é dedicado ao feminino primordial, e tem artigos interessantíssimos, abordando de saúde à espiritualidade, mostrando o universo feminino de uma forma holística, muito diferente de outros sites ou publicações. ou seja, nada de dicas de maquiagem, dietas milagrosas ou de como se tornar mais sedutora ou provocante. é um site lindo, de grande sensibilidade, sobre ser mulher de uma forma pura e plena. altamente recomendável.

a primeira vez que votei na vida foi na primeira eleição direta prá presidente do Brasil. eu devia ter uns 18 anos. lembro-me que anulei meu voto com um um redondo "A" de anarquia, aquele famoso. não sabia bem o que era anarquia, nem tampouco tinha muita idéia de que estava abrindo mão de um direito conquistado a duras penas. fui votar porque assim ordenava o Estado. era a democracia, diziam.

o tempo passou, outras eleições vieram, e o que antes não passava de uma grande maçada passou aos poucos a ser tarefa séria, pensada, debatida e, porque não dizer, tinha até seus momentos de diversão. o horário eleitoral gratuito passou a ser um must das minhas noites, não só para análise dos candidatos, como também para entretenimento - vá lá, poucas coisas são tão bizarras e engraçadas na tv hoje em dia. o ritual de ir às urnas era cumprido com respeito, apesar dos muitos minutos a pé sob o sol escaldante da primavera da Baixada Fluminense. com tanto respeito que me sentia realmente ofendida quando a multidão que se aglomerava nas ruas me cercava para oferecer "santinhos". "a senhora já tem candidato?" - a pergunta me fazia ferver o sangue, reduzia-me à massa dos que votavam por obrigação, que muitas vezes escolhe candidato à boca da urna prá se livrar do "dever democrático" e ir tomar suas skols depois. apesar de ter encarado tudo como tarefa séria, pensada, debatida, a sensação pós-votação era sempre de anti-clímax. era como ter participado de uma farsa. não tinha graça nenhuma.

este foi o primeiro ano em que não votei prá presidente do Brasil. tenho acompanhado, do jeito que dá, a movimentação eleitoral pela tela do computador, através dos jornais onlines e blogs. sei mais ou menos em que pé as coisas estão, sei do desalento de um grupo que mais uma vez vê a massa faminta e ignorante decidir por todos. e também de um outro grupo que acha que o PT no poder trouxe à tona preconceitos da época da colônia que rezam que operários não podem governar.

eu acho que cargos políticos são tão sérios que não deveriam ser dados a quem não tem no mínimo um curso superior. do mesmo jeito que prá ser médico, advogado ou professor é preciso estudo - afinal, todos lidam com gente, e gente é coisa séria. não pelo título, mas pela vivência que os bancos universitários proporcionam, pela abertura de racocínio a qual eles te impelem. elistista? não acho. a menos que você considere que universidade é só prá ricos. uma das minhas broncas com o Lula não é o fato de ele ter sido um operário, pois eu também nunca fui rica e nem ao menos classe média. é o fato de ele ter tido tantas oportunidades de enriquecer-se como ser humano através do estudo e não tê-lo feito. belo exemplo prá população que o elegeu.

no mais, continua tudo na mesma. claro que tivemos umas mudancinhas, mas elas vieram a passo de tartaruga. as cabeças pensantes ainda são uma minoria, quem elege nossos representantes é, sim, o povo que não pode compreender que há muito mais além de uma refeição a um real ou de uma bolsa-família, porque os estômagos continuam roncando e os filhos continuam chorando de fome apesar de tantas décadas de promessas. é preciso que seja assim, para manter as mesmas elites no poder. e quem não é elite quer ser, quem nunca comeu melado quando come se lambuza, e taí o PT que não nega a sabedoria popular. outros elegem Clodovis e, apesar do passado, Malufs e Collors. eu reafirmo cada vez mais a minha teoria de que os governos são reflexos de quem os elege, logo, se quisermos mudanças de verdade, precisamos começar a mudar a nós mesmos. esse é a nossa grande tarefa para o momento. ou será que você, que reclama do governo, passaria incólume a uma oferta de 30 milhões para votar a favor dele?

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