além do limite



acabo de assistir a um belíssimo e extremamente bem feito documentário sobre o Andy Warhol, importante artista plástico da segunda metade do século 20 e maior expoente da pop art. quase impossível não se ter ouvido falar de Warhol ou ao menos não se ter qualquer memória de seus trabalhos mais famosos. o Warhol foi um artista tão genial que, dentre outras coisas, conseguiu fazer com que olhássemos com outros olhos para coisas absurdamente comuns. eu por exemplo, pelo menos aqui nos EUA, não consigo ir ao supermercado, passar pela seção de sopas e não olhar para as latinhas da Campbell´s como se estivesse perambulando por uma galeria.

geralmente não sou uma grande fã da produção de arte feita depois da década de 20-30; sinto-me mais atraída mesmo é pelo artistas e por suas vidas, muitas vezes atribuladas, mas fascinantes. e o Andy foi uma dessas figuras, pessoa de um mundo interior absurdamente complexo e, claro, uma dificuldade terrível em lidar com tudo isso. acabo de dar uma espiadinha no mapa astral dele e descobri que, apesar de ser ter sido visto como uma pessoa doce e fragilizada, de frágil não tinha muita coisa, a julgar por uma ousada Lua em Áries, ascendente e 4 quatro planetas (entre eles o Sol) em Leão. ou seja, muita determinação, coragem e força. e muita, muita vontade de brilhar. de fato, ele deixou sua terra natal rumo à New York com apenas 200 dólares no bolso e um portfolio embaixo do braço, obcecado com a fama - e ela fatalmente veio.

acabei me identificando em vários pontos com o Andy. ele começou a carreira como artista gráfico e, com o tempo, muita vontade de se tornar um artista "não comercial", de buscar caminhos novos. eu sempre trabalhei com desenho, papel, lápis. gosto de ilustração, artes gráficas, arte aplicada; não ligo a mínima que algumas pessoas considerem "arte menor", para mim esse conceito não existe. mas não nego que tenho uma vontade imensa de me aventurar em outras mídias. mais propriamente a pintura (instalação e escultura não me dão prazer, apesar de eu ter me saído bem em algumas tentativas). o problema todo é o vazio criativo, o ponto de interrogação: pintar o quê? o que é que ainda não foi feito, explorado, experimentado? que possibilidades em pintura tem um artista do século 21, a não ser reciclar tudo o que já foi pensado por outros artistas e acabar soando "derivativo"?

um artista que me emociona muito e que conheci a pouco tempo atrás, o Alex Grey, tem um conceito bastante similar ao que eu acredito estar mais próximo de algo ainda pouco explorado em arte, porque ainda incompreendido - o conceito de arte "espiritual". eu acredito que essa seja uma tendência não só na arte, mas em vários outros campos do conhecimento humano. a revelação de uma realidade além do que é percebido pelos cinco sentidos, a preocupação não mais com simples idéias, mas com algo mais transcedental e sublime. acho que essa é porta que se abre no que parece ser um vazio de possibilidades, uma porta que poucos ainda conseguem enxergar. o "além do limite". antes da fotografia, pintava-se o mundo visível; depois, o mundo das idéias; agora á hora de transcender. e esse é o que igualmente sinto ser o meu compromisso como artista.

aqui, uma pintura do Grey (escolhida em minha homenagem, claro). tem uma visceralidade, uma coisa que pode ser até mesmo perturbadora para alguns, mas que é ao mesmo tempo de um forte lirismo e uma capacidade visionária surpreendente.

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