desde pequena, sou apaixonada por palavras, as impressas e as invisíveis. aprendi a ler, escrever e falar muito cedo, segundo a minha mãe. falava pelos cotovelos. lia tudo o que me caía nas mãos, e enchia cadernos e mais cadernos de histórias fantásticas e desenhos a lápis de cor. na escola já não falava tanto, por causa da timidez e da insegurança, mas os escritos contiuaram e as leituras também. eu adorava tudo o que a maioria dos alunos odiava: a aula de redação e os livrinhos obrigatórios, sobre os quais teríamos que fazer provas depois. li clássicos quando ainda era criança, mesmo sem entender como devia. Shakespeare era meu favorito aos treze anos - idade em que li e reli Hamlet com uma voracidade sem precedentes.

o tempo passou e eu fui descobrindo outros meios para as palavras. aprendi a usá-las no silêncio de gestos teatrais e de passos de dança, em forma de notas de música e de olhares. aprendi a controlar minha curiosidade pelo mundo e ficando mais seletiva. aprendi a degustar livros devagar, a não ler tudo o que me vinha de encontro, a rejeitá-los depois da décima página por descobrir que não me trariam nada novo. aprendi na pele que as palavras podem ter mais poder e machucar mais que armas, e ainda deixar sequelas por anos a fio. mas que também podiam transformar, causar revoluções, curar. aprendi que elas são a chave do processo civilizatório, e que somos ainda uns néscios sem consciência de seu melhor uso.

a liberdade que temos hoje de usar as palavras e difundi-las é um milagre que apenas este nosso século maluco nos podia trazer. é certo, vivemos empanturrados de palavras para o bem e para o mal; mas temos ampla liberdade de escolha. mesmo com tantas bobagens lidas no dia-a-dia, mesmo com orkuts e spams, acho que tem valido a pena.

palavras são infinitas.

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